Patrícia Pagu
Era uma vez uma região entre o Grajaú e Nova Iguaçu, que foi dada de
presente à um camarista. Esse camarista, cujo nome era Meyer[1], separou
parte das suas terras, entre Lins de Vasconcelos e Água Santa, e
distribuiu aos negros alforriados da cidade do Rio de Janeiro.
Essa
grande fazenda com terras abundantes se transformou então numa espécie de quilombo
legalizado e, sendo muito rico em mananciais de águas cristalinas, acabou
chamando atenção de outros nobres cidadãos.
Bem distante
dos escravos, em uma época de homens livres, se fez a
urbanização... E, sem escolas e sem saneamento, a região da Boca do Mato
cresceu e se favelizou.
Ali foram educados Martinho da Vila e
Luiz Carlos Prestes. Ali, terra de muitos sambas, nasceu a Lins Imperial,
rainha de grandes carnavais mas, longe dos serviços do Estado, o lugar ficou
sitiado, entregue às drogas e à violência.
A cultura do descaso trouxe o lixo e a poluição, e os riachos e cachoeiras agora são imensas valas negras, matando a comunidade de preocupação.
Depois de tantas mortes e torturas, depois de tantos relatos de amarguras, eis que chega a "pacificação" que, na verdade, só trouxe especulação. Trocou-se o gatonet pela "Sky", mas segurança, só se for no asfalto pois, no morro, continua o mesmo descaso.
Ali, policiais esculacham a população mas, no fundo, são filhos da mesma opressão. Nessa serra vistosa, conhecida como dos Pretos Forros, poluída e negra, tal qual capitães-do-mato, treinados com descaso, eles caçam e caçam para mostrar serviço.
A serra dos Pretos Forros continua lá, mais suja e menos livre. Mudou muito mas, para muitos, ela é
um lar.
Oh Boca
do Mato, sempre escondida dos cartões postais, és o retrato da segregação. Rio
de Janeiro dos invisíveis, 450 anos de abandono!
Nota
1- Trata-se de Augusto Duque Estrada Meyer (pronunciava-se Máier), conhecido como o Camarista do Paço, um nobre que servia Pedro II em seus aposentos. Infelizmente não encontramos nenhuma imagem que o retratasse.Em 27/11/1935, no Jornal da Manhã, o levante da Aliança Nacional Libertadora, a Intentona Comunista, no Rio de Janeiro. |
Martinho da Vila em 1967: sargento e sambista. |
A cultura do descaso trouxe o lixo e a poluição, e os riachos e cachoeiras agora são imensas valas negras, matando a comunidade de preocupação.
Depois de tantas mortes e torturas, depois de tantos relatos de amarguras, eis que chega a "pacificação" que, na verdade, só trouxe especulação. Trocou-se o gatonet pela "Sky", mas segurança, só se for no asfalto pois, no morro, continua o mesmo descaso.
Ali, policiais esculacham a população mas, no fundo, são filhos da mesma opressão. Nessa serra vistosa, conhecida como dos Pretos Forros, poluída e negra, tal qual capitães-do-mato, treinados com descaso, eles caçam e caçam para mostrar serviço.
Site oficial das Unidades Policiais de Pacificação (UPP) |
Nota
2 - As fotos sem legenda foram tiradas pela autora.