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14 de maio de 2013

Por uma visita teatralizada no Instituto de Educação

           Bia Albernaz
http://riodejaneiroqueeuamo.blogspot.com.br/2009/09/detalhe-do-telhado-com-suas-telhas-de.html
         Uma vez escrevi um texto que se chamava “Como manter vivo um museu-casa?”.* Uma das conclusões a que cheguei na época é que um lugar se mantém vivo na medida em que permanece em construção, pela criação ou pela acolhida de processos de intervenção. Em termos museográficos, isso poderia ser realizado ao apresentar a leitura desse mesmo lugar por um frequentador menos óbvio, como um inspetor por exemplo (tendo em mente o Instituto de Educação); ou pela presentificação de um de seus fundadores, como Anísio Teixeira, através de um ator. Ou seja: um lugar pode ser revivido pela sua exposicão transversalizada, com a interferência concreta, visível e perceptível dos saberes ou poderes que lhe instituem. Vozes em off podem acompanhar a visita, ou luzes, imagens projetadas, aparições... As intercorrências e os atravessamentos no cotidiano de um lugar podem ser ritualizados, ou melhor, teatralizados, aguçando-se assim a percepção do saber que ali se encontra guardado. Pelo deslocamento dos sentidos através da presença, mesmo que fictícia, de personagens, de vozes marcantes na história do lugar, provoca-se uma experiência no visitante que ultrapassa o seu cotidiano e o seu olhar ordinário, e gera pensamentos e questionamentos pela transversalidade de saberes públicos, privados e míticos.
          Lutar contra o esquecimento não se dá pela simples lembrança. Memória é experiência. Tem duração e pressupõe participação, no sentido clássico da palavra – em que madeira e fogo participam um do outro para formar a fogueira. Um passa a ser o outro. Participação é identificação. E identificação se dá pela participação em um processo específico de construção.
          Além de ser uma instituição de ensino e pesquisa, o  Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro é um museu pedagógico: um lugar para se visitar, consultar, recordar, prestando-se à busca afetivo-intelectual ao tocar a sensibilidade e a inteligência das pessoas, sejam elas crianças, adolescentes, adultos ou idosos, alunos e não alunos da instituição. Para isso o Instituto deve procurar um modo de abrir as suas portas a todos, convidando a todos a se apropriarem e participarem de sua experiência como uma matriz da educação pública, gratuita e laica.
          Para manter vivo o Instituto, porém, é preciso reconhecer as suas contradições e rever permanentemente os seus pontos de vista. Para preservar a sua memória, portanto, é preciso colocá-la em discussão, politicamente, reconstruindo-a por um ritual com o qual todos possam se identificar e ao mesmo tempo estranhar. O Instituto, nessa acepção, deve ser um lugar de aprendizagem, para além das suas salas de aula. A discussão deve tomar o teatro, o torreão, o pátio, cada cantinho é passível de ser pensado museograficamente, na medida em que contribua para a transversalização de saberes e de poderes expostos no espaço da instituição.
          O Instituto de Educação como um todo e em cada uma das suas partes pode ser uma porta para a história do pensamento educativo no Brasil. Muitas atividades já têm sido realizadas dentro dessa concepção.  Trata-se apenas de aprofundá-la, de torná-la consistente “como manifestação de uma proposta educacional não de ressurreição mas de refundação, de reivindicação de uma potência para o que está vivo”, ainda que e talvez por isso mesmo a vida desse lugar passe pela experiência do abandono.
          Para a ressurreição, não há fórmula, mas pode haver um roteiro, um ritual teatralizado provocador que nos mostre o poder dos esquecidos contra a força que consome as coisas e as transforma em cinzas. Não se trata simplesmente de repetir um discurso de enaltecimento do tombamento do prédio. É preciso reacender as ideias que fizeram com que o prédio se erguesse. É preciso romper o isolamento, sem temer o risco de receber visitantes e de expor-se a um público externo e alheio ao que se passa no interior do Instituto. Pelo contrário, devemos buscar formas de atrai-lo. Lutar contra o esquecimento é cultivar o diálogo, a narração e a poesia, para além do discurso. Joguemo-nos na nossa realidade, na nossa história, reinventando modos de recontá-la.

* http://www.unirio.br/jovemmuseologia/documentos/3/resumo_albernaz.htm
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Exemplos de visitas teatralizadas
O Programa Educacional e Social do Museu Casa do Pontal é desenvolvido, desde 1996, com os objetivos de divulgar a arte popular brasileira e democratizar o acesso ao acervo de mais de 8.000 obras da instituição.
http://museudopontal.blogspot.com.br/2009/10/programa-educacional-e-social_23.html
Entre as atrações do Programa Educativo estão Visitas Teatralizadas ao prédio do CCBB.
A deusa Têmis encontra Rui Barbosa no Tribunal da Justiça. Ver: http://www.tjrj.jus.br/web/guest/institucional/esaj/iv-encontro-escolas/galeria/visita
Visita a Zugarramurdi, na Espanha, um pequeno enclave de 250 habitantes que guarda várias histórias sobre bruxas.
http://www.turismozugarramurdi.com/seccion/presentacion_institucional/
http://gerindabai.blogspot.com.br/2010_11_03_archive.html

13 de maio de 2013

IN_Trânsito - Odisseias Urbanas


Texto: Isabel Penoni

Direção: Isabel Penoni, Joana Levi

Elenco: Cia Marginal
A ideia é bem interessante: mostrar as paisagens das estações, fazer o público viver a cegueira, interagir com as pessoas que por acaso estejam em trânsito. No final, pode-se dizer: estive de passagem pelo trânsito intenso dos trens e vi, eu vi, vimos, ouvimos. Então, voltemos à Ítaca. Para onde vamos nós, Odisseus? Será que há quem nos espere, quem nos queira? Trilhos nos levam a que cidade? Que cantos são estes por onde eles correm?

Por mim, Odisseu poderia prosseguir em trânsito pelas estações. Afinal, ele demora sete anos para voltar à sua cidade. Fiquei com vontade de ouvir mais aventuras, de saber nomes, de seguir o heroi persistente em novos encontros com sereias, com os mortos, com monstros e feiticeiras.

Com seus disfarces peludos, os companheiros de Odisseu saem da mira do monstro - ciclope cegado
e ensandecido - e trilham, trilham.  
Bia Albernaz