Sonia Barreto C. da Luz
Ao sair de minha casa, pego minha bicicleta e, do portão, me deparo com o topo do Morro do Corcovado, onde avisto o Cristo Redentor, a 709m acima do nível do mar. Desço a Rua Santa Alexandrina passando em frente ao INMETRO, ao colégio CAP/UERJ e chego à praça Condessa de Rio Comprido. Atravesso e passo pela avenida Paulo de Frontin, com uma extensão de 1.600m, aberta em 1919 durante a gestão do prefeito de mesmo nome.
Verifico um local bem agitado que marca o início da zona norte e o final da zona central da cidade, um bairro de localização estratégica e privilegiada - Praça da Bandeira. Ali, por onde passo, acontece uma tríplice ligação entre as zonas norte, sul e central. Com dificuldade, devido ao fluxo de veículos, percorro e atravesso a rua Haddock Lobo. Pedalando, observo pessoas nervosas, estressadas, alguns poucos mendigos, o comércio agitado, crianças saindo e entrando na escola e também vejo pessoas bem alegres que já me conhecem e me cumprimentam.
Continuo meu trajeto pela rua Barão de Ubá, passando por escolas, lanchonetes, um posto de gasolina, um supermercado e uma unidade de atendimento ambulatorial de saúde, o PAM da Rua do Matoso, sempre lotado. Passo pelo colégio e a igreja adventistas e, atravessando as ruas o mais rápido que posso, entro pelo portão 10 do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, e estaciono a minha bicicleta.
***
O bairro onde moro
Falo agora de forma afetiva do bairro onde moro: RIO COMPRIDO. Antigamente, o rio conhecido como Comprido era denominado Iguaçu e cruzava o atual bairro do Rio Comprido e parte do bairro do Estácio, região então chamada de Catumbi Pequeno. O acesso à região, um vale entre os morros de Santa Teresa e Santos Rodrigues, se dava pelo Catumbi Grande (atual bairro do Catumbi), através de caminhos tortuosos abertos pelos colonizadores portugueses que ocuparam os arredores do Rio de Janeiro. O caminho principal, a longa estrada do Catumbi (atual rua Itapiru), era margeado por sítios e chácaras às margens do rio Catumbi ou Papa-Couves. Por ali, chegava-se ao Catumbi Pequeno nas imediações da chamada “Cova da Onça”.Na época de Dom João VI, o atual bairro do Rio Comprido abrigou o Quartel General do Exército, tornando-se um bairro agradável aos ingleses que nele habitavam em propriedades cercadas de amplos quintais. A chácara mais famosa foi a do Bispo Frei Antonio do Desterro, erguida no século XVII, também conhecida como “Casa do Bispo”, que serviu de residência episcopal até 1873, quando ali se instalou o Seminário São José. O prédio, conservado até nossos dias, foi tombado pelo patrimônio histórico.
A influência do Bispo no Rio Comprido era enorme e suas terras se estendiam até a chamada “Pedra do Bispo”. A partir do largo do Bispo, chega-se à atual praça Condessa Paulo de Frontin, caminho que se tornou a rua do Bispo, em 1844. Da praça saem também a rua do Rio Comprido (atual Aristides Lobo) e a rua da Estrela, assim chamada por sediar o solar do Barão da Estrela, o português J. Maia Monteiro.
Em 1841, foi aberta a rua em que eu moro, Santa Alexandrina, responsável pela ligação do trecho superior do bairro com os canos de Santa Teresa, passando pela Lagoinha, no caminho do “Trilho do Sumaré”. Na Lagoinha, ficava um aqueduto de captação de águas, oriundo das nascentes do Rio Comprido, que se conectava com os “canos do Carioca”. Esse aqueduto corresponde à atual estrada. Dom Joaquim Mamede.
A rua mais longa do Rio Comprido era a rua da Bela Vista, onde ficava a chácara do Marechal Francisco Cabral da Silva, o Barão do Itapagipe, que depois da sua morte passou a nomear à rua. Nela se destacava o casarão secular do Conde de Bonfim, demolido no século XX para dar lugar ao Hospital Alemão, que, depois de confiscado na II Guerra Mundial, deu lugar ao Hospital da Aeronáutica. A avenida Paulo de Frontin foi aberta em 1919 pelo engenheiro e prefeito de mesmo nome, que canalizou e retificou o rio Comprido.
O bairro cresceu e outras ruas foram abertas, até que, em 1967, a abertura do Túnel Rebouças ao final da avenida Paulo de Frontin transformou o bairro na principal passagem entre as zonas Norte e Sul. Alguns anos mais tarde foi construído sobre o rio Comprido, o elevado Paulo de Frontin (atual Avenida Engenheiro Freyssinet). A obra foi marcada por uma tragédia que abalou a sociedade carioca. Em 1971, durante as obras, o elevado sofreu o desmoronamento de um trecho com 122m de extensão que caiu sobre a rua Haddock Lobo, matando 28 pessoas. Reconstruído e inaugurado em 1974, o elevado passou a permitir o acesso direto ao túnel Rebouças pela praça da Bandeira, o que retirou parte dos veículos de passagem do bairro. Em 1992, o elevado foi conectado à chamada Linha Vermelha.
***
A avenida Paulo de Frontin em 3 tempos
Em 1916 (Foto: O Rio de antigamente) |
No anos 1920 (Foto: O Rio de antigamente) |
Atualmente, sob o viaduto (Foto: História do Rio) |
***
O bairro onde estudo
Quero também falar de um bairro pelo qual tenho grande afeto. Nele, conheci o Instituto de Educação e pessoas maravilhosas que ali dão aula e estudam: PRAÇA DA BANDEIRA, entre o centro da cidade e a Tijuca, na zona norte.Trata-se de um ponto central de interseção viária, com acessos para as zonas Sul, Norte, Oeste e a cidade de Niterói. Suas avenidas possuem trânsito intenso e essa situação piora nos dias de temporais. Rodeada de encostas, como as dos morros da Tijuca, a região é alvo de intensas enchentes.
A conhecida Praça da Bandeira faz parte da circunscrição da 18ª Delegacia Policial e do 6º Batalhão de Polícia Militar. Nas suas imediações, encontra-se a famosa Vila Mimosa, ameaçada de ser demolida juntamente com as ruas ao redor, em 2013, para a realização de obras relacionadas com o trem-bala que ligará o Rio a São Paulo.
***
Ciclovias
Quero agora apontar um problema: a falta de ciclovias em
vários barros do Rio, inclusive no Rio Comprido e na Praça da Bandeira,
porque amo andar de bicicleta, preciso utilizá-la, muitas vezes por uma questão de necessidade, e vejo o quanto é perigoso.Gostaria muito de transitar pela cidade de bicicleta de forma segura e não apenas como lazer. Entretanto só me sinto segura quando a ciclovia é separada fisicamente das vias dos carros.
Em uma cidade de belas paisagens e clima tropical, a bicicleta surge como uma solução sustentável e muito agradável, principalmente para a locomoção em pequenos percursos. Mas a falta de estrutura da cidade ameaça a segurança dos ciclistas. E a Prefeitura, além de não construir ciclovias ou ciclofaixas devidamente equipadas para atender às necessidades do cidadão que circula de bicicleta, não oferece transporte público de qualidade.
A cidade de Bogotá, capital da Colômbia, recebeu uma ampla reforma urbana que promoveu a integração dos vários modos de transporte e as condições para uma melhor convivência no trânsito entre motoristas, pedestres e ciclistas. Além da melhoria do transporte público, a cidade tem cerca de 340 quilômetros de ciclovias. Hoje é exemplo para o mundo todo! E aí Rio de Janeiro, vamos fazer circular esta ideia?
Mapa cicloviário em Bogotá (Foto: Voltando a Bogotá) |
A autora e sua bicicleta, em uma travessia entre a rua Mariz e Barros e a Maracanã (Foto: Monica Vallim) |
Essa minha história faz parte do meu cotidiano. Fico muito feliz por publicarem. Obrigada a minha professora do coração Bia Albernaz.
ResponderExcluirSônia Barreto C. da Luz
Olá Sonia
Excluirprecisamos fazer uma excursão de bicicleta um dia desses, com você como professora para nos ensinar a ser safos nessas ruas conturbadas (ainda que cheias de história) do Rio de Janeiro.
Desculpe a catarse, mas acho que tem a ver com seu texto http://catarse.me/pt/projects/671-bicicletorama
ResponderExcluirOi Sonia! Adorei seu amor pela história e pelo Rio Comprido. Tentei te encontrar no facebook para convidá-la a participar de um grupo do bairro e também para informar que a CApUERJ tem um blog sobre o bairro. Veja em https://www.facebook.com/groups/196503143784235/
ResponderExcluire http://riocomprido.blogspot.com.br/2012/05/projeto-rio-comprido.html
Temos muitas fotos contando um pouquinho da história do bairro.
Abraço,
Sheila Castello