Natalia do Vale Lopes
Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo.
Michel Foucault
População de rua, que corresponde a 70% dos usuários do serviço, à porta do bandejão | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia |
Porque tantas pessoas vivem nas ruas
A vida das pessoas que moram nas ruas não é fácil. Esses indivíduos que fazem das praças, dos viadutos, dos becos suas casas, não estão ali por acaso ou simplesmente porque querem morar nas ruas. Resistindo ao calor, à chuva, ao frio, com certeza alguma situação os levou a esta triste realidade. Como julgar que tais pessoas não merecem uma oportunidade de melhorar suas vidas, ter um trabalho digno, um lar que lhe ofereça conforto?Os motivos pelos quais elas estão morando nas ruas são os mais diversos. Desde os problemas ocasionados pelo uso de bebidas ou drogas, falta de trabalho (sem poder pagar o aluguel mesmo de um barraco), desilusão familiar, amorosa, vício da bebida ou das drogas. Numerosos podem ser os motivos.
As nossas cidades estão com cada vez mais pessoas que passaram a adotar as vias como moradia. Na cidade de São Paulo, por exemplo, de acordo com um levantamento realizado pela Prefeitura, existem 13.000 pessoas morando nas ruas da metrópole. São muitas pessoas que cotidianamente vivem o sofrimento e as humilhações. Cidades como o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e muitas outras estão repletas de pessoas perambulando e dormindo nas calçadas, praças e outros locais. As ações dessas cidades em acolher e mostrar alternativas para essas pessoas são totalmente inadequadas, ineficientes e nunca são tratadas com seriedade. Existem, inclusive, notícias de cidades que retiram os seus mendigos e os devolvem para as suas cidades de origem, ou os retiram de determinados locais e os colocam em outros isolados. Os governantes parecem ter vergonha deles, mas nada fazem para ajudá-los. Ao contrário, os impedem de ficarem onde estão.
Até pensamos que fazemos a nossa parte como cidadãos, mas infelizmente não temos tempo para realmente ajudar esses sujeitos. Tirando algumas poucas pessoas, algumas instituições e um pouco do poder público que lhes oferecem algumas ajudas de emergência como comida, banhos e dormida em quantidade extremamente reduzida, ninguém lhes estende a mão dando-lhes uma oportunidade para começar ou recomeçar a vida.
Em algumas cidades existem albergues oferecidos pelas prefeituras, onde as pessoas recebem comida, roupas e uma cama para dormir. Ali, são obrigados a seguir horários fixos, tomar banho, trocar de roupa e não beber. De manhã, devem acordar e voltar para a rua. "Logo cedinho já vêm os homens cutucando e mandando a gente trabalhar", reclama o baiano Eginaldo Barreto Cruz, cantor, dançarino e, atualmente, catador de papelão. Ele também alega falta de higiene em certos albergues: "Sujeira a gente ainda ignora, mas pulga não dá".[1]
Mesmo assim, são poucos os moradores de rua que não recorreram pelo menos uma vez a um albergue, numa noite fria. Os candidatos ao pernoite têm de amargar uma demorada fila de espera do lado de fora. E, com essa frequência esparsa, a tendência é reproduzirem lá dentro alguns padrões da rua. Como têm de dormir em salões enormes, com até 60 camas, não são raros os roubos, discussões e brigas. Não há dados oficiais que contabilizem essas ocorrências, mas a maioria acaba sendo resolvida entre eles mesmos.
Promover de fato a reintegração dos moradores de ruas à sociedade e resgatar a suas identidades há muito perdida não é tão simples assim. Muitos não conseguem voltar ao seu modo de vida anterior junto à sua família, devido ao vício ou à perda de memória. Porém, alguns não se acostumam com a vida de mendicância, e esperam a oportunidade de serem reintegrados à sociedade ou reencontrar suas famílias. O triste é quando a família não os aceita de volta.
No Rio de Janeiro, o projeto "Ao encontro dos meninos em situação de rua", da Fundação São Martinho [2], identifica as principais demandas das crianças e jovens de rua, com o objetivo de oferecer uma alternativa de desenvolvimento e proteção especial de média e alta complexidade para o público-alvo atendido. Em 2010, o projeto proporcionou atividades e atendimento social para 317 crianças e jovens. Dessas, 53 foram encaminhadas para o abrigo e 9 reintegradas às suas famílias. O projeto funciona no Centro Socioeducativo, situado na Rua Riachuelo nº 7 – Lapa.
A Findação São Martinho é uma instituição séria que tem comprometimento com esses jovens moradores de rua. Nesse mesmo local, funcionam o Núcleo de Informação e Formação, o Centro de Defesa Dom Luciano Mendes de Almeida e o Mundo do Trabalho – Inserção.
È preciso que o governo, as famílias e nós, cidadãos, saiamos da nossa omissão para ter um olhar mais humano para essas pessoas e efetivamente ajudá-las.
Notas
[1] No olho da rua, da série Profissão: Brasileiros, do SESC/SP, de jan/fev 2004. Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
[2] Para saber mais, clique aqui.
Realmente é triste tanta corrupção milhões sendo desviado e as nossas ruas brasileiras cheias de vidas entregue a sorte.
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