Mônica Vallim
Basta ser filho de
indígenas e manter-se longe da civilização para ser índio? Ou será preciso
aculturar-se para garantir o direito dos povos originários?
Na aproximação com a
Aldeia Maracanã, percebe-se que ser índio está além do complexo e amplo sentido
de sentir-se ou não um índio no espaço citadino. E tanto pode significar
orgulho, quanto distanciamento de sê-lo.
Muitos brasileiros indubitavelmente possuem em sua árvore genealógica resquício de sangue indígena, misturado ao europeu talvez ao africano, afinal, foi assim que se constituiu o povo brasileiro desde a invasão portuguesa em 1500. Embora alguns não tenham sequer noção exata de suas etnias ancestrais, pois a pele branqueou, a história passou a ser o que lhes contaram e o que aprenderam nos livros didáticos – seria por vergonha ou falso orgulho?
A estatura média
brasileira também aumentou nas últimas décadas e após sucessivas miscigenações
restou o orgulho do sangue europeu nas terras tupiniquins. Para a maioria dos
que se declaram brancos, o índio urbano não tem o menor sentido ou valor
cultural, principalmente frente aos interesses econômicos e políticos da Copa
de 2014.
Mas Mayra, uma indiazinha urbana de uns 12 anos dá mostras pelas redes sociais seu orgulho de ser indígena, fruto de um amor que seria proibido séculos atrás entre as etnias Krikati (mãe) e Guajajara (pai).
Exibe com igual orgulho
seu gosto musical juvenil, midiático e o grafismo de jenipapo e carvão da etnia
Guajajara, que gera curiosidade aos seus colegas na escola.
Sua participação em uma
cerimonia da Aldeia Maracanã – “Etnia
Guajajara e Etnia Krikatí - DIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA 10 SETEMBRO 2011” – está inclusive disponível no youtube e comentada
em blog, celebra publicamente a sua primeira
menstruação. Mas ela não se mostra constrangida, ou, como diriam os mais
antigos, incomodada.
Com
riso farto ostenta o seu uniforme de estudante do Instituto Superior de
Educação do Rio de Janeiro na Oca do Antigo Museu do Índio. Participa da luta
para que naquele pedaço de terra o prédio em ruínas localizado ao lado do
Maracanã, seja oficialmente reconhecido como um Centro Cultural Indígena que
contemple as várias etnias indígenas e quem sabe ali nasça a primeira
universidade indígena do Brasil.
A jovem menina moça parece ser o colóquio aberto e perene entre as culturas indígena e brasileira no contexto urbano. Acultura-se com consciência de sua identidade, direitos, deveres, tradições e língua.
“O direito à cidade manifesta-se como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitá-la e morar. O direito à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto do direito à propriedade) estão implícitos se no direito à cidade”. (Lefebvre, 1968, p.155)
Espera-se ao término desse breve relato ter contribuído
para dar visibilidade aos índios urbanos praticamente sitiados a cada avanço das obras de revitalização do entorno do Maracanã, e seu ideal de defender
naquele espaço a luta indígena para a restauração de um
patrimônio histórico centenário que é de todos nós brasileiros. Foi através da resistência da Aldeia Maracanã que nesse
pequeno espaço/tempo criou um centro cultural indígena em um não lugar urbano e por meio da obstinação indígena que o prédio do Antigo Museu do Índio ainda se mantém em pé.
Preservem-se através dos registros online as ações que contribuíram de alguma forma para o cuidado da memória histórica e cultural que apesar da precariedade e descaso com o bem público ainda persiste como uma resistência política e organizada naquele espaço/território dando voz aos anseios dos povos originários do Brasil e que por conta dessa ocupação pacífica e legal ainda pode ser visitado todos os sábados por escolas e/ou qualquer pessoa interessada na variedade multiétnica, multilinguistica e multicultural de nossos indígenas.
Preservem-se através dos registros online as ações que contribuíram de alguma forma para o cuidado da memória histórica e cultural que apesar da precariedade e descaso com o bem público ainda persiste como uma resistência política e organizada naquele espaço/território dando voz aos anseios dos povos originários do Brasil e que por conta dessa ocupação pacífica e legal ainda pode ser visitado todos os sábados por escolas e/ou qualquer pessoa interessada na variedade multiétnica, multilinguistica e multicultural de nossos indígenas.
Eu a vi lá na aldeia.
ResponderExcluirMinha filha de 10 anos também foi à aldeia e recebeu a "tatuagem indígena" nos braços, o grafismo feito de jenipapo e seus coleguinhas na escola ficaram bastante curiosos e impressionados e eu fiquei orgulhosa que ela tenha gostado tanto do passeio à aldeia e de ter convivido um pouco com os índios, queria sempre estar bem perto deles, ficava os seguindo. Tenho certeza que contribuí para que ela cresça e se torne um ser humano melhor.
Hoje estou muito triste e apreensiva pois a liminar que impedia a demolição e expulsão dos índios caiu! O pior pode acontecer a qualquer momento. É triste demais ver o que o governo está fazendo para enriquecer empresários já ricos, usando a copa como desculpa. Tenho certeza que se o espaço fosse reformado e voltasse para ali o museu do índios na época da copa e olimpíadas ficaria bem cheio. Os gringos iriam adorar visitar o espaço e aprender um pouco mais sobre a cultura do país....enfim.
aqui vai um video do ato da última sexta na aldeia http://www.youtube.com/watch?v=yM4Ke2FXtFQ&sns=em
Essa aldeia é de mentira. Está sendo plantada ali pra tentar interferir na Copa, é coisa de partido emergente que como não tem programa, fica fazendo oposição do jeito que consegue. O argumento emocional do índio pega fácil e eles sabem disso. E quem não quer Copa, pergunta ao povo, manda fazer plebiscito - ou só vale a vontade da maioria pra lei de ficha limpa?
ResponderExcluirSr(a) Anônimo, esta aldeia não é mesmo como as demais. A idéia não é que ali seja um lugar de moradia, mas de cultura, de memória. Mas ela existe muito antes de qualquer partido tomar conhecimento da causa. Índio é um argumento nada fácil, se você quer saber, pois o preconceito no Brasil ainda é muito grande. A FIFA já emitiu seu parecer sobre o prédio (um monumento histórico independente de opiniões partidárias ou sectárias): não é a favor da demolição. Seria muito bom que se fizesse um plesbicito mesmo, mas como você deve saber, nem mesmo sobre a Ficha Limpa, ele foi convocado. As decisões sobre a nossa cidade continuam sendo tomadas entre quatro paredes e depois pulveriza-se uma propaganada enganosa, tipo "os índios querem atrapalhar a Copa".
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