Numa dessas manhãs, assisti na TV uma homenagem
ao centenário de Nelson Rodrigues. Em determinado momento da reportagem, me
chamou a atenção a fala do diretor de teatro João Fonseca, que contou: “Quando
ele começou a fazer peças onde o linguajar era mais popular, vamos dizer assim,
perguntaram - Mas os seus diálogos não são muito pobres? E ele respondeu –
‘Você não sabe o trabalho que me dá empobrecê-los’”.
Em seguida me veio à cabeça que adequar
conteúdos de uma exposição para trabalhar com o publico escolar também não é
uma tarefa fácil e tampouco apresenta diálogos pobres. É preciso levar em
consideração não apenas a adequação da linguagem, mas o repertório do grupo, já
que ensinar exige respeito aos saberes do aluno e não representa somente a
transmissão de teorias prontas. Mas, ao mesmo tempo, cabe ao educador não só
esbarrar na curiosidade ou no conhecimento prévio do aluno, pois compartilhar o
que foi pesquisado para a exposição pode agregar ainda mais conhecimento ao
repertório do educando. No final das contas, ensinar exige também pesquisa e
muito comprometimento.
O tema de uma exposição pode trazer
indícios sobre o foco do curador, mas só estando na exposição para ver
abrangência de assuntos que envolvem o tema em questão. Essa abrangência faz
com que o educador foque em um assunto ou outro para trabalhar com o seu grupo,
mas isso não que dizer que sua visita se restringirá a sua escolha, pelo
contrário, durante a visita podem fazer parte deste recorte outros apontamentos
levantados pelos visitantes e pela curadoria.
Porém, cabe aqui ressaltar que o tempo de
envolvimento que o curador tem com a mostra difere do tempo de pesquisa do
educador. No primeiro caso, por exemplo, uma mostra pode apresentar o viés de
uma pesquisa acadêmica de muitos anos de quem a curou. Já no segundo, o tempo
de estudo é mais fugaz, pode acontecer num mês e meio antes da abertura da
exposição e durante o período da mostra, intercalando com as visitas agendadas.
Por isso que é importante o recorte que o educador faz para exposição, pois o
mesmo tem que considerar não só a adequação da linguagem e o repertório do
visitante, mas o tempo de visita e do seu preparo para a mesma.
Na prática educativa, a leitura do que se
trata a exposição pode ocorrer simultaneamente a reflexão acerca das
possibilidades que ela apresenta para trabalhar com o grupo de forma didática.
Um bom exemplo disso é quando um educador no meio de uma conversa sobre a
exposição sugere uma dinâmica ou uma atividade prática para aplicar com o
visitante que dialoga com o fazer do artista. Diferente de uma simples
releitura, essa atividade pode servir para que o aluno entenda melhor o
que o será apreciado e discutido na exposição. Neste momento, lembro-me de
Paulo Freire1 que enfatiza a necessidade de uma reflexão crítica
sobre a prática educativa: ela se torna uma exigência da relação entre
Teoria/Prática sem a qual a teoria pode virar blábláblá, tornando-se apenas
discurso, e a prática, transformar-se em ativismo em uma reprodução alienada,
que não provoca questionamentos.
Enfim, esses são alguns caminhos
percorridos pelo educador para a adequação de conteúdos de uma mostra. Por
isso, não ache estranho, pobre e nem simples ver um educador olhando para o
teto junto com o seu grupo numa exposição.
Numa mostra de fotografia, por exemplo, essa
ação pode ser fundamental para exercitar não só o olhar daquele que observa o
teto como um ponto de vista a ser fotografado; mas pode possibilitar também um
contato mais estreito com os alunos, deixando-os mais a vontade para exercitar
suas opiniões. Desta forma, aprendemos com eles e, por consequência, ensinamos.
1. Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia:
saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 2009.
Fonte: http://educativoims.wordpress.com/2012/11/07/o-dificil-e-simplificar/
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Alguns sites de Serviços Educativos de Museus e centros culturaisPaço das artes
Pinacoteca de São Paulo
CCBB-RJ
Instituto Moreira Salles
Inhotim
Instituto Tomie Ohtake
Museu Lasar Segall
Museu de Arte Moderna - RJ - Núcleo experimental/
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