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20 de março de 2013

O difícil é simplificar

--> Roseli Martins / educativoims
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Numa dessas manhãs, assisti na TV uma homenagem ao centenário de Nelson Rodrigues. Em determinado momento da reportagem, me chamou a atenção a fala do diretor de teatro João Fonseca, que contou: “Quando ele começou a fazer peças onde o linguajar era mais popular, vamos dizer assim, perguntaram - Mas os seus diálogos não são muito pobres? E ele respondeu – ‘Você não sabe o trabalho que me dá empobrecê-los’”.
Em seguida me veio à cabeça que adequar conteúdos de uma exposição para trabalhar com o publico escolar também não é uma tarefa fácil e tampouco apresenta diálogos pobres. É preciso levar em consideração não apenas a adequação da linguagem, mas o repertório do grupo, já que ensinar exige respeito aos saberes do aluno e não representa somente a transmissão de teorias prontas. Mas, ao mesmo tempo, cabe ao educador não só esbarrar na curiosidade ou no conhecimento prévio do aluno, pois compartilhar o que foi pesquisado para a exposição pode agregar ainda mais conhecimento ao repertório do educando. No final das contas, ensinar exige também pesquisa e muito comprometimento.
 O tema de uma exposição pode trazer indícios sobre o foco do curador, mas só estando na exposição para ver abrangência de assuntos que envolvem o tema em questão. Essa abrangência faz com que o educador foque em um assunto ou outro para trabalhar com o seu grupo, mas isso não que dizer que sua visita se restringirá a sua escolha, pelo contrário, durante a visita podem fazer parte deste recorte outros apontamentos levantados pelos visitantes e pela curadoria.
 Porém, cabe aqui ressaltar que o tempo de envolvimento que o curador tem com a mostra difere do tempo de pesquisa do educador. No primeiro caso, por exemplo, uma mostra pode apresentar o viés de uma pesquisa acadêmica de muitos anos de quem a curou. Já no segundo, o tempo de estudo é mais fugaz, pode acontecer num mês e meio antes da abertura da exposição e durante o período da mostra, intercalando com as visitas agendadas. Por isso que é importante o recorte que o educador faz para exposição, pois o mesmo tem que considerar não só a adequação da linguagem e o repertório do visitante, mas o tempo de visita e do seu preparo para a mesma. 
 Na prática educativa, a leitura do que se trata a exposição pode ocorrer simultaneamente a reflexão acerca das possibilidades que ela apresenta para trabalhar com o grupo de forma didática. Um bom exemplo disso é quando um educador no meio de uma conversa sobre a exposição sugere uma dinâmica ou uma atividade prática para aplicar com o visitante que dialoga com o fazer do artista. Diferente de uma simples releitura, essa atividade pode servir  para que o aluno entenda melhor o que o será apreciado e discutido na exposição. Neste momento, lembro-me de Paulo Freire1 que enfatiza a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa: ela se torna uma exigência da relação entre Teoria/Prática sem a qual a teoria pode virar blábláblá, tornando-se apenas discurso, e a prática, transformar-se em ativismo em uma reprodução alienada, que não provoca questionamentos.
 Enfim, esses são alguns caminhos percorridos pelo educador para a adequação de conteúdos de uma mostra. Por isso, não ache estranho, pobre e nem simples ver um educador olhando para o teto junto com o seu grupo numa exposição.
Numa mostra de fotografia, por exemplo, essa ação pode ser fundamental para exercitar não só o olhar daquele que observa o teto como um ponto de vista a ser fotografado; mas pode possibilitar também um contato mais estreito com os alunos, deixando-os mais a vontade para exercitar suas opiniões. Desta forma, aprendemos com eles e, por consequência, ensinamos.
1.  Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 2009.  
Fonte: http://educativoims.wordpress.com/2012/11/07/o-dificil-e-simplificar/

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