Textos criativos,filosóficos, históricos e literários; itinerários, depoimentos e relatos para pensar a cidade como lugar de educação. O foco é o Rio de Janeiro mas experiências em outras cidades também são contempladas.
Natalia Garcia, do projeto Cidade das pessoas, traduziu e adaptou os 12 critérios para determinar o que é um bom espaço público estabelecidos pelos autores urbanistas Jan Gehl, Lars Gemzøe, Sia Karnaes e Britt Sternhagen Sóndergaard no livro New City Life (só encontrei menção ao livro Cities for people). A concepção gráfica é dos designers Marina Chevrand e Calu Tegagni.
Com base nestes critérios, é possível avaliar o lugar onde você vive.
Outro ponto que ajuda a gente pensar a nossa cidade é a determinação de seus diferenciais. Confira abaixo:
Trago aqui um pequeno comentário sobre uma tocante visita ao Museu da Maré. Na ocasião, pude conferir a exposição temporária "Som da Maré".
O blog de autoria de Pedro Rebelo descreve o projeto na íntegra. Para visitá-lo, clique AQUI.
Por um labirinto cenográfico, caminhamos ouvindo jovens moradores nos contarem a história deste lugar, hoje um complexo de favelas chamado Maré. Assim, o labirinto cria, no espaço, aquilo que, no tempo, é a lembrança.
Passeamos pelo incrível cenário, descortinamos o seu passado, ao mesmo tempo percebendo os signos premonitórios de um novo futuro.
Ver o trabalho dos guias locais é vislumbrar nas ruínas dessa história, como diria Walter Benjamin, outras leituras do que poderia ter sido e não foi. Para ele, a democracia requer memória histórica, aquela possível de ser revisitada e contestada. E foi isso que senti vendo ali aqueles jovens narrarem a história cultural de muita luta de sua comunidade.
Com sua exposição permanente “Os Tempos da Maré”, o Museu nos provoca uma experiência sensível e profunda. Doze tempos formam um grande calendário: Água, Migração, Casa, Trabalho, Feira, Festa, Fé, Cotidiano, Criança, Medo e Futuro. Do TEMPO DE CRIANÇA, trago um fragmento que muito nos interessa para pensar a cultura urbana moderna que tira as crianças da rua, tida como lugar perigoso! Esta concepção presente em inúmeros projetos sociais da comunidade aparece assim problematizada no espaço das crianças:
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De muito fácil acesso, o Museu tem um site com todas as informações disponíveis para visitação e lindas imagens, inclusive uma exibição virtual de "Os 12 tempos da Maré". Dê um pulo lá. Basta clicar AQUI.
Ainda nos dias de hoje, mesmo na ausência de guerras mundiais, negligenciamos os direitos das crianças viverem e
conviverem com qualidade a
História, a Educação, o Lazer, a Saúde...
Meu primeiro contato com os
preceitos de Janusz Korczak foi no curso de extensão em Pedagogia Social,
oferecido pelo Projeto PIPAS-UFF, em uma palestra da professora Monica
Picanço, no dia 24 de abril de 2014. Suas ideias permanecem atuais e
conhecê-las só nos reforça a certeza da necessidade de um maior cuidado e afeto
para com essa fase primária. Assim como Rousseau e Pestalozzi, Korczak via o amor como primordial,
desconfiando da exclusividade da razão no desenvolvimento humano.
Médico e pedagogo, seu verdadeiro nome era Henryk
Goldszmit, mas adotou o pseudônimo de Janusz Korkzac. Pregava o respeito a todos, independente da idade. Para ele, as crianças
não iriam se tornar pessoas no futuro, por já serem pessoas.Assim como a centralidade do amor, a autogestão da criança
fazia parte de sua proposta pedagógica, que também se valia do método de observação empregado na medicina. Humanista e espiritualista,
defendia o desenvolvimento da autonomia da criança.
Nasceu em 22 de julho de 1878, em Varsóvia, Polônia. Além de médico pediatra e pedagogo, foi radialista e activista social. Judeu, foi assassinado em 05 de agosto de 1942, em Treblinka.
Em 1901, começou a dar aulas se
aprofundando na teoria de Pestalozzi. Criou uma metodologia de ensino a partir
de uma “caixa de surpresas”, da qual tirava objetos que contextualizava através de diversos conteúdos e aplicações. Em 1911, começou a buscar mais iuntensamente uma pedagogia que, além de ajudar, transformasse a vida das crianças.
Em1912, inaugurou o orfanato “Lar das
crianças”, depois conhecido como “República das Crianças”, cuja filosofia era de defesa de uma sociedade compreensiva e respeitosa para com
as crianças. Essas, por fazerem parte do processo de transformação social, não poderiam ser consideradas como sujeitos passivos. Assim, para Korczak, olhar a criança é ver suas
possibilidades, e não aceitar que elas sejam coibidas em seu ser ou fazer.
Como uma das precursoras da escola
democrática e pelo seu respeito às crianças, sua pedagogia serviu de base para a
“Declaração dos Direitos das Crianças” e posteriormente para a “Convenção
dos Direitos da Criança”.
Janusz Korczak não era um
teórico frio e distante, mas um homem que optou radicalmente por suas crianças. Morreu numa câmara de gás, pois não aceitou um salvo-conduto de Hitler, que
poupava a sua vida. Preferiu permanecer unido a 200 crianças do seu orfanato,
que foram despejadas e depois condenadas à morte pelo ditador nazista.
Veja o filme "As 200
Crianças do Doutor Korczak” (1990), com direção de Andrzej Wajda. Nele, você verá o contraste entre os princípios de justiça
dentro do orfanato e a prática da injustiça fora da instituição.
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Nas práticas que orientam a
proposta pedagógia de Janusz Korczak:
1.A
criança é um sujeito.
2. A centralidade é no amor.
3.Na
autogestão pedagógica, o adulto apenas auxilia a criança na busca diária de
crescimento, amadurecimento e autoconhecimento.
A organização, no “Lar
das Crianças”, depois “República das Crianças”, conta com:
·Parlamento
·Tribunal
de Arbitragem
·Comissão
Legislativa
·Comitês
·Caixas
de Cartas (onde eram colocadas sugestões, dúvidas, reclamações, e o autor
poderia ficar anônimo se quisesse)
·Jornais
·Mural
·Plebiscito
Os princípios norteadores de sua
teoria são:
1.Aprendizagem das disciplinas
com base nas práticas democráticas (simulação de tribunais, por exemplo)
2.Complementação trabalho
intelectual e trabalho manual (todos exerciam os cuidados com
a escola)
3.Aprendizagem pela explicitação, consideração e resolução dos conflitos
4.Admissão da
punição como um valor educativo apenas quando promotora de conscientização
5.Consideração da
educação como um processo coletivo
A realização desses princípios
geravam:
·Autogestão
das crianças
·Educação
pelo trabalho
·Adoção consciente
das normas estabelecidas para a vida em comum
·Domínio
de si conquistado gradualmente
·Um
sistema original de recompensas e punições (tendo em vista a sensibilidade para com o outro)
·Numerosas
formas de atividades educativas e recreativas, coerentes às necessidades das
crianças, por diversas linguagens
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PERPETUAR XTRANSFORMAR
A SOCIEDADE
A criança “acomodada” é o sonho
da educação contemporânea. A escola produz sujeitos, com um imenso risco de tornar a criança um ser humano fraco e covarde. Em sua trajetória, Korczak traduziu a dor e a perplexidade em relação à perversidade humana, produzindo uma obra
que mostra a importância da tolerância e respeito para com as crianças.
Janusz Korczak
deixou muitos escritos, dentre os quais 24 livros e cerca de mil artigos publicados
em revistas. As principais obras incluem “Como Amar uma Criança” e “O Direito
da Criança ao Respeito” que 30 anos depois, viriam a inspirar a Declaração dos
Direitos das Crianças, das Nações Unidas.
Bibliografia sugerida:
Como amar uma criança. 4º
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
O Direito da Criança ao Respeito. São Paulo. Ed. Summus. 1986.
Quando eu voltar a ser
criança. 4º ed. São Paulo: Summus,1985.
Sobre o autor:
MARANGON,
Ana Carolina Rodrigues. Janusz Korczak, precursor dos direitos da criança: uma
vida entre obras. São Paulo: UNESP, 2007.
Para a redescoberta de conceitos e valores, é preciso ver além do óbvio
e do que é literalmente visível, é preciso mergulhar na realidade de novos "espantos".
É preciso também repensar
o nosso condicionamento de sempre querer concluir, fechar as ideias. Com a ajuda da Filosofia, busquemos a
busca da construção de novos
olhares e conceitos.
Foto original em http://clandestinoinstitut.org/en/author/markus/
O que é pensar filosoficamente? Qual a relação entre o espanto e o sentimento
filosófico? Espantar-se é olhar com propriedade, olhar de olhos abertos, é ver sem pressa, sem formatação pré-estabelecida, é olhar com calma,
descompromissadamente e com sentimento sobre as coisas.
Mas quem, quando e como se olha assim? O filósofo tem esse
olhar com a essência infantil da
descoberta sobre as coisas, as pessoas, os acontecimentos. Ele cultiva esse olhar de
perplexidade e admiração, de quem não se acostuma nunca com as mesmas imagens,
com a mesmas pessoas e coisas.
Nos acostumamos a enxergar ao nosso redor de acordo com o estabelecido, o condicionado. Não exercitamos nossa
curiosidade mas os novos tempos nos exigem que voltemos a olhar as coisas
com o espanto de quem as vê pela primeira vez, e assim questioná-las, com esse olhar contemplador, que também se
maravilha. Mas isso requer uma
busca inquieta e indisciplinar,
um pensar e ver sem fronteiras.
Segundo Stein, "o ser-possuído pelo olhar, o dever-ser-inteiramente-olhar
para o que se apresenta, define a essência da admiração". Ou seja, a
essência do ato de se admirar está em atentar com olhos não silenciosos, captadores de novas perspectivas e de visões do já visto.
No
filme "A janela da alma", de Wim Wenders, o neurologista Oliver Sacksafirma: "o ato de olhar não se limita ao visível, mas também ao invisível".É
olhando além do visível, exercitando os olhos da alma, que construímos uma
releitura do mundo. O exercício possível consiste em ver além do óbvio, questionar o visível, provocar o estranhamento.
Para ver o filme, acesse https://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg.
Também Saint-Exupéry e Ionesco nos incentivam a mergulhar nas infinitas possibilidades de ver, sentir e
pensar para assim ampliar nossas
perspectivas, sentimentos e conceitos. Novas imagens nos levam a
novas essências. "O essencial
é invisível aos olhos", escreveu Saint-Exupéry. "Mergulha,
sem limites, no espanto e na estupefação. Deste modo, podes ser sem limites,
assim podes ser infinitamente.", defendeu Ionesco.
Mergulhemos pois no espanto para a
(des)construção do ver. Não permitamos ser abatidos pela crise
que pode nos assolar de uma só vez, tornando-nos taciturnos e acomodados. Debrucemo-nos sobre a construção do olhar da
filosofia, que pode nos manter longe do pesado fardo do conformismo e do ser
acabado, pré-definido.
É
preciso estarmos atentos aos ladrões e
manipuladores da consciência crítica que nos roubam as possibilidades de
ver e nos embriagam de um conformismo autista em relação a uma realidade
dada. Não nos deixemos ser "metamorfoseados", tais como "Os
rinocerantes" de Ionesco. (1) Filosofemos,
busquemos thaumazein (2), não percamos a capacidade de nos admirar. Não nos
deixemos ser sugados pela hipocrisia de um olhar dogmático.
A filosofia é a mola da
sensação de desconforto que nos
faz buscar novas repostas para aquilo
que nos incomoda ou por aquilo que não mais nos incomoda. Filosofando, transgredimos, especulamos e desconfiamos sempre. Marilena Chauí, em seu livro Convite à filosofia, diz (3):
se
abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil;
se não se
deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos
for útil;
se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da
história for útil;
se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas
ciências e na política for útil;
se dar a cada
um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de
suas ações numa prática que deseja a felicidade e a liberdade para todos for
útil,
então podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes de
que os seres humanos são capazes.
***
NOTAS 1- A peça "O
Rinoceronte", escrita há mais de 40 anos por Ionesco, é ainda bastante atual. Ela conta a história de uma cidade
pacata que se transforma após a passagem de um rinoceronte por
suas ruas. À medida que a origem do paquiderme é discutida e em alguns casos
rebatida, a sua presença, misteriosa e incontrolavelmente, se prolifera,
até notarmos que são os próprios cidadãos da cidade que gradualmente se transformam em rinocerontes. Nas entrelinhas, o rinoceronte mostra o conformismo da sociedade. A metamorfose
é uma analogia ao processo de mediocrização social pela nossa incapacidade
de ir contra as regras impostas e massificadoras, atreladas
a um poderio corrupto e ambicioso. Cf. http://www.notaindependente.com.br/materias.php?id=0085
2- Thaumazein é o verbo grego que de modo aproximativo tentamos traduzir como
admirar-se, espantar-se. Trata-se de um estado que nos acomete quando nos defrontamos com
algo estranho por ser thaumaston, extraordinário, admirável. No
diálogo Teeteto, Platão refere-se à esta admiração como um pathos um estado
interior que sentimos quando algo nos arrebata. Cf. http://www.fae.unicamp.br/vonzuben/filos.html
O encontro "Outros monstros
possíveis. Pobres, índios, imigrantes, loucos: Mestiçando a cidade...”,
organizado por Giuseppe Cocco
(PPGCO/UFRJ e Universidade Nômade), Lia Calabre (FCRB),
Mauricio Siqueira (FCRB) e Emerson
Mehry (UFRJ), acontece na Fundação Casa de Rui Barbosa.
No dia 14 de novembro de 2013, das 14 às 18h, foram
convidados para o debate
Poéticas das redes e das ruas
Paula Kossatz (Mídia Ativista),
Javier Toret (UOC- Barcelona, Espanha), Larissa Bery (Dona Baratinha), Rafaela
Miranda Rocha (Coletivo Projetação), Rodrigo Modenesi (Morre Diabo) e Itála
Isis (Movimento Cidade Invisíveis).
O que é e como se dá a participação política? Quais os caminhos possíveis na realização da transformação social no atual contexto histórico, em que o interesse dos bancos e das grandes corporações se sobrepõem aos direitos dos cidadãos já declarados como universais? Para enfrentar esses monstros, eis outros possíveis.
***
Javier Toret – o monstro na rede
Cheguei e Javier Toret já estava com o microfone na mão. Falava super
rápido, e em espanhol. Optei por pescar na sua fala alguns termos e anotar todos os endereços na rede por ele
mencionados.
Esta postagem é o resultado de uma pequena pesquisa na rede, partindo das indicações feitas por Javier Toret, em sua apresentação sobre a atuação da assets.outliers
(web design, visualização de dados e ensaios cidadãos, segundo o site) nas
manifestações populares na Espanha a partir de 2011.
O termo assets
é muito utilizado em gestão de recursos financeiros (assets management) mas a
palavra se refere a um universo mais amplo, no qual se incluem as noções de
posse de bens ativos, como qualidades e vantagens que extrapolam a visão contábil do mundo, humanizando-a.
Quanto a outlier,
aprendi que a expressão vem da estatística, e refere-se àobservação de dados amostrais insignificantes
porque muito dissonantes.Em geral, nas análises
estatísticas,estas observaçõessão
descartadas, por destoarem demais da opinião média. Mas, questiona Javier
Toret, se são essas as informações que,precisamente,
fornecem osmais
valiososinsightse dados mais ricos, mais produtivospara a interpretação da amostra, por que descarta-las?
Bia Albernaz
Os assets.outliers.es trabalham
com esses dados nasredes sociais, tornando-os
visíveis. De um ponto de vista antropológico, analisam essa diversidade de
informações em trânsito nas cidades, e as transformam em dados, nutrindo
gráficos e pesquisas que as tradicionais empresas de marketing, voltadas para a pesquisa de opinião e para a montagem de
perfis de consumidor, costumam desprezar.
Visor de emoções do dia 15 de maio de 2011. Elaborado por Oscar Marín Miró http://assets.outliers.es/15memociones/
Dessa maneira, traduzem as cidades
reais em cidades virtuais, sempre com base nomodelo bottom-up. Bottom-up?!
De acordo com a Sebrae, o desenvolvimento “bottom-up” é um modelo complementar (e
não oposto) ao modelo “top-down” na geração de trabalho e renda nos municípios
brasileiros. De fato, nainternet
chega-se a vários endereços onde se pode ler a respeito do tal modelo bottom-up, mas apenas em alguns casos a sua menção se dá tendo como pano de fundo um contexto político propriamente dito, tal como citado por Javier Toret. Ao que
parece, o modelo está catalogado, nomeado e alastrado, seja como exercício
de retórica, com tom propagandístico, seja como jargão
ou gancho para facilitar a comunicação. Parece-me que o uso dado por Javier
ao termo se encaixa na última hipótese, mas tambémcomo se a referência a esse modelo fosse uma bandeira ou um escudo, pelas possibilidades abertas
por ele em relação à negociação e à construção de consenso em ações civis.
***
Agora DRY
Outro
termo do jargão de Javier Toret é DRY. Segundo a Wikipédia, trata-se de um acrônimo de Don't repeat yourself. (Em
português seria “Não repita a si
mesmo”.) Mas isso é no jargão do programador de informações em sistemas.
Pesquisando mais, descobri que DRY é também uma sigla criada no contexto político das
manifestações civis na Espanha. Para ampliar a participação, foi criada a
plataforma ¡Democracia Real YA! (DRY). Os dados a respeito são fartos e fáceis de encontrar na rede, já
que a intenção era justamente essa: possibilitar que as ideias em circulação
nas ruas se propagassem em um ambiente de fácil navegação e alta interatividade, para viabilizar uma participação
mais ampla, horizontalizada e sem lideranças.
O movimento na Espanha começou
com a ocupação da praça principal em Madri – a Puerta del Sol – em 15 de maio de
2011 e se alastrou para 57 outras cidades. Sua motivação foi denunciar o modo
como as grandes empresas e os bancos dominam as tomadas de decisão nas esferas
políticas e econômicas, e exercitar a democracia participativa e sem hierarquias. Na plataforma DRY defende-se a democracia direta através de assembleias populares
e a busca de consenso.
A inspiração para o DRY foram os avanços obtidos pela
população da Islândia em sua crise financeira de 2009, pela Primavera Árabe, pelos
protestos na Grécia em 2010 e 2011 e pelas revoluções na Tunísia no mesmo
período. Contudo, em abril de 2012, alguns daqueles que iniciaram a plataforma DRY racharam, criando uma organização
paralela cujo nome é o mesmo daquela da qual partiram!
Na bibliografia básica dos
ativistas do DRY, encontra-se o
pequeno tratado de Stéphane Hessel (Indignai-vos),
escrito no final de uma trajetória que passou pela Resistência Francesa durante
a 2a Guerra Mundial.
Também na Espanha, como em
protestos em várias partes do mundo, a violência por parte de policiais e de
manifestantes se fez e se faz presente, constituindo-se como um fator de
desagregação e de abandono de militantes mais pacíficos, temerosos ou
cautelosos. Na plataforma DRY, encontra-se um Manifesto que busca
transcender a linguagem política das instituições partidárias e
sindicais, consideradas pouco confiáveis em nossos dias. A ênfase está na cobrança
ao governo para que ele assuma sua responsabilidade diante dos cidadãos,
garantindo a todos condições dignas de vida. O Manifesto também critica o
consumismo e o hedonismo, que alimentam uma rede perniciosa de endividamento
para o indivíduo e de desgaste energético do planeta. Alguns das organizações
signatárias do Manifesto são: NoLesVotes; Plataforma
de Afectados por la Hipoteca; Asociación
Nacional de Desempleados; Juventud
Sin Futuro; Attac
España; Ecologistas
en Acción; Estado
del Malestar; Occupy
Hispania - Iberia - Lusitania Indignados # Iberian R-Evolution & Unión
União Unió Ibérica
A questão é: indignados em geral não
recebem bom tratamento dos governantes,
já que em geral esses são os alvos da indignação. ***
Outra noção citada por Javier Toret foi Identidade Coletiva, conceito presente
na Psicologia Social, sobretudo quando se trata de entender o que vem a ser a identidade social.Na Antropologia, o termo também circula. Joseph Jordania, etnomusicólogo, defende que a identidade coletiva foi crucial para a sobrevivência humana diante
das forças da seleção natural. De acordo com ele, a identidade
coletiva permite a suspensão do medo e da dor dos indivíduos em situações de
combate, das quais os humanos não têm a memória. Em situações-limite, a identidade
coletiva exacerba-se. São os momentos em que as pessoas se dispõem a perder as
suas vidas por um objetivo coletivo, como a sobrevivência de seus filhos ou do
seu grupo.
No cotidiano, essa alteração de consciência
demonstra-se pela capacidade humana de seguir o ritmo de grandes grupos, como
acontece em corais (Jordania é um maestro de corais) ou no carnaval, por
exemplo. Nesse estado de Identidade
Coletiva, a sobrevivência do grupo se sobrepõe à sobrevivência
individual.
Consciência coletiva é um termo correlato que descreve o cenário em
que uma pluralidade de pessoas formam parte de uma rede, como se essa tivesse
uma mente própria, parecida com uma colmeia.
***
Versão completa do Colóquio
No
meio dos debates sobre taxa de crescimento do PIB, emergência de uma nova
classe média, megaeventos e megaobras, multiplicam-se resistências que se
manifestam monstruosamente...
Como cheguei atrasada, não ouvi a primeira fala, de Paula Kossatz (Mídia Ativista). Relato de Bia Albernaz