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30 de janeiro de 2015

Os intermediários - os lugares sob a lente fotográfica de uma criança


Márcia Fernandes
Dores, alegrias, inocências, angústias e esperanças se misturam em diversas obras que, em épocas diferentes, discutem o olhar da criança, seus  ângulos e perspectivas, que adultos não conseguem captar. Com o que sonha a criança? O que a imagem traduz é produto de sua  consciência  focada num ponto, em um objeto, uma paisagem?
Entre o real e o imaginário, há um intermediário: a criança. Olhar o mundo pela sua  perspectiva nos conduz  a um questionamento constante: Afinal, o que é real? O que é imaginário? Uma travessia por um caminho tênue entre o abrir e o fechar dos olhos no piscar de um clique. Mas o que busca a criança quando posiciona a lente numa direção?   O que ela  escolhe nem sempre é angelical ou cor-de-rosa. O cenário em foco dialoga com a sua realidade  ou com uma realidade que ela aspira ter, viver. A foto  alça voos  e chega  nas  fronteiras  mais sutis  ou mais hostis da realidade  infantil,   onde o adulto não poderia imaginar que  um olhar infantil pudesse chegar. 
O projeto “Aprender nas Ruas” (ISERJ), coordenado pela professora Bia Albernaz, do curso de Pedagogia, em parceria com o projeto “Ônibus da esperança” (Bus der Hoffnung), realizado pela professora Criz Muniz, da Brinquedoteca da Educação Infantil, concebeu um programa de visitas pelo Rio de Janeiro com 10 crianças, de 7 a 14 anos, que teve início com a realização de um   passeio fotográfico pelo próprio ISERJ-Instituto de Educação do Rio de Janeiro. O objetivo era que elas fotografassem espaços nunca antes transitados por eles. Captar a sensibilidade deles e transferi-la para a nossa realidade nos levou (aos adultos da equipe, que também contava com quatro monitoras da Pedagogia) a ler paisagens e  lugares que conhecíamos, sob a luz de um  olhar investigativo e surpreendente, que nos   trouxe momentos de beleza, alegria e inquietação.

Os lugares do  percurso fotográfico realizado com as crianças foram  previamente escolhidos, como o Salão Nobre e o Torreão. Apesar de dispormos de um roteiro, as iniciativas e reações foram livres para que cada um fotografasse o que desejasse. Com a câmera na mão, lá foram eles. E deu muito certo, talvez porque não seja preciso muito para se compreender que “ver está muito além de enxergar”, como lembra Evgen Bavcar. Quem foi ele? Para ver o trecho do filme “A janela da alma”, clique AQUI.
Mas, caminhemos mais um pouco com as crianças e suas iniciativas fotográficas. 
Passando pelos lugares do Instituto, com as crianças, percebemos o quanto é importante cada um buscar o seu foco, o seu caminho.
No terceiro andar da instituição, as crianças fotografaram a exposição da Comissão da Verdade montada para lembrar os 50 anos do golpe de Estado, dando início à ditadura militar com a ocorrência de perseguições e tortura de presos políticos no Brasil.

A vida, nestes momentos, transita  pelas fronteiros do passado e do presente e do que é bom e ruim.


Ainda de acordo com Evgen Bavcar, “o mundo perdeu a sensibilidade de olhar e vivemos uma fase de cegueira generalizada e numa mídia que propõe e impõe uma imagem pronta a ser consumida”.
A fotografia auxilia o processo de acompanhar os nossos pequenos em outras esferas para que o olhar da infância, carregado de fundos imaginários dentro de cenários reais, faça com que a emoção aflore e se registre na imagem... Nosso equilíbrio interior depende da nossa capacidade de nos emocionarmos.
O que busca uma criança quando mira uma câmera? Muito mais do que uma imagem. Nesse momento, eles se tornam autores do próprio percurso, seja mágico e doce, seja trágico.

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