Márcia Fernandes
O que busca uma criança
quando mira uma câmera? É muito mais do que uma imagem; é um momento em que eles
se tornam autores do próprio percurso, seja ele mágico, doce ou trágico.
O percurso de Molhen Bakarat era trágico, mas
ele o fez mesmo assim.
Mas quem foi Molhen Bakarat? Sua identidade foi revelada depois de sua morte, em Alepo, Síria, em meio a um conflito de guerra, na semana de Natal de 2013.
Mas quem foi Molhen Bakarat? Sua identidade foi revelada depois de sua morte, em Alepo, Síria, em meio a um conflito de guerra, na semana de Natal de 2013.
Bakarat entrou para o fotojornalismo, valendo-se de uma oportunidade
ou por falta dela. Podia escolher entre ser um homem-bomba em seu país ou aproveitar
a facilidade em transitar nos becos de Alepo.
Não sendo aceito pelo seu Estado para
ser um homem bomba, por ser um adolescente "moderno", de acordo com os costumes culturais exigidos para a função, e podendo ir a
lugares que somente a população local poderia chegar, entrou para o
fotojornalismo.
Retratava o cotidiano
da população, os momentos de desespero, desolação, de alegria fugaz e de intimidade, tudo o que somente a convivência
compartilhada propicia. Fotograva com sensibilidade e liberdade.
Com apenas 17 anos,
se tornou fotógrafo de guerra, testemunha e vítima. Um jovem pertencente à população local, como tantas
outras crianças, que se tornou uma opção, uma salvação para os jornalistas ocidentais que embarcavam nessa aventura arriscada de
cobrir os conflitos na Síria.
Bakarat era um garoto comum: gostava de
Kate Perry, usava jeans e camiseta e um estiloso casaco com brasão da Grã-Bretanha. Sua foto de perfil no Facebook era a de um menino. Parecia feliz com um largo
sorriso no rosto.
Vendeu fotos que
renderam milhões para a Reuters. Por 15
fotos, ganhava pouco mais que 100 dólares. Morreu sem capacete e sem colete à prova de balas. A agência de notícias Reuters noticiou a sua
morte, mas não revelou a sua idade. Por que?
Molhen foi salvo de se
tornar um terrorista? Mas morreu pelo
terror, por diferentes pesos, mas pelas mesmas medidas. O seu percurso foi
curto, mas intenso.
A guerra continuará,
mas a maneira como jovens, crianças que por estarem e fazerem parte da zona de
perigo são tratadas como peças de um jogo de xadrez fotográfico, devem ser questionadas.
Molhen e a fotografia, o perigoso percurso do conflito. |
Para nós resta a lembrança; para a Reuters, uma nota: “A segurança de nossos jornalistas,
sejam eles funcionários ou freelancers, é primordial…” SERÁ? Com certeza, não. Sem identidade revelada, sem idade
divulgada. (
Cf. http://revistazum.com.br/colunistas/sangue-novo-na-guerra/)
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