Textos criativos,filosóficos, históricos e literários; itinerários, depoimentos e relatos para pensar a cidade como lugar de educação. O foco é o Rio de Janeiro mas experiências em outras cidades também são contempladas.
Produzido no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro - ISERJ. Nosso e-mail: cidadeeducativa@googlegroups.com
28 de novembro de 2011
20 de novembro de 2011
Precisamos conhecer a Biblioteca Parque de Manguinhos
Inspirada nas bibliotecas-parque de Medelin e Bogotá, na Colômbia, a Biblioteca Parque de Manguinhos é um centro cultural com cerca de 2,3 mil m², contruído no antigo Depósito de Suprimento do Exército (1º DSUP), vinculado à Secretaria de Estado da Cultura, que conta com ludoteca, filmoteca, sala de leitura para portadores de deficiências visuais, acervo digital de música, cineteatro, cafeteria, acesso gratuito à Internet e uma sala denominada Meu Bairro, para que os usuários façam reuniões da comunidade.
- 40 computadores disponíveis
- 3 e-readers
- 5 TVs de LCD
- livros eletrônicos da Gato Sabido
- 3 milhões de música em arquivo digital (do Imusica)
- 1 mil filmes em dvd
- vasta coleção de quadrinhos
- 25 mil títulos
- 28 funcionários (moradores da região)
- um blog: clique AQUI para conhecer.
Intensa oferta de cursos, oficinas e atividades dedicadas às crianças e aos jovens.
15 de novembro de 2011
O Rio para quem (não) conhece
Herika Maria Alvarenga
Nossa, tive uma experiência muito engraçada! Fui passar as férias em São Geraldo do Baixio, em Minas Gerais e as pessoas queriam saber se realmente o Rio de Janeiro tinha tudo aquilo que aparece na televisão, principalmente nas novelas.
É muito estranho descrever onde você mora para uma pessoa que talvez nunca vá a esse local. Em qualquer canto que eu chegava, me perguntavam como era viver num lugar que tem praia, montanha, cachoeira… Não vou me lembrar direito de todas as perguntas pois já tem oito anos que estive lá, mas elas eram mais ou menos assim:
É muito estranho descrever onde você mora para uma pessoa que talvez nunca vá a esse local. Em qualquer canto que eu chegava, me perguntavam como era viver num lugar que tem praia, montanha, cachoeira… Não vou me lembrar direito de todas as perguntas pois já tem oito anos que estive lá, mas elas eram mais ou menos assim:
É verdade que a água da praia é salgada?
É verdade, só não me pergunta o porquê que eu não sei.
É verdade, só não me pergunta o porquê que eu não sei.
Você mora perto da praia?
Mais ou menos, depende de que praia eu queira ir, pois existem algumas que ficam a uma hora da minha casa e tem outras que ficam a três horas. Para quem mora na capital, fica mais perto. Para quem vive nos municípios vizinhos, é mais distante.
Mais ou menos, depende de que praia eu queira ir, pois existem algumas que ficam a uma hora da minha casa e tem outras que ficam a três horas. Para quem mora na capital, fica mais perto. Para quem vive nos municípios vizinhos, é mais distante.
As mulheres usam aquelas roupas de verdade para ir à praia? Os biquinis não são muito pequenos?
Em geral, sim. Mas isso vai do costume e da pessoa.
Em geral, sim. Mas isso vai do costume e da pessoa.
A cachoeira é perto da praia?
Mais ou menos, as cachoeiras da Floresta da Tijuca ficam perto.
Mais ou menos, as cachoeiras da Floresta da Tijuca ficam perto.
Esta floresta chamada Floresta da Tijuca, você conhece?
Conheço sim. Fica a uma hora da minha casa.
Conheço sim. Fica a uma hora da minha casa.
No Rio, não chove? É verdade que carioca não gosta de frio?
Claro que chove! E sim, carioca não gosta de frio.
Claro que chove! E sim, carioca não gosta de frio.
Que tipo de música vocês escutam?
Rock, música sertaneja, pop, samba, pagode, vários tipos. Cada um gosta de um estilo diferente.
Rock, música sertaneja, pop, samba, pagode, vários tipos. Cada um gosta de um estilo diferente.
No carnaval é aquilo mesmo? Você já foi ver de perto?
Acho que o que passa na televisão é igual ao que acontece mas não posso dizer pois nunca vi de perto. Bem, eu já passei por algumas escolas...
Acho que o que passa na televisão é igual ao que acontece mas não posso dizer pois nunca vi de perto. Bem, eu já passei por algumas escolas...
E o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, você já foi?
Não, ainda não tive oportunidade, mas um dia vou.
Pois é, isso de contar para as pessoas como é a cidade onde você mora pode soar estranho. Mas o mais estranho é que voltei para o Rio de Janeiro com a impressão de quem precisava conhecer melhor o lugar onde vivo era eu!
Não, ainda não tive oportunidade, mas um dia vou.
Pois é, isso de contar para as pessoas como é a cidade onde você mora pode soar estranho. Mas o mais estranho é que voltei para o Rio de Janeiro com a impressão de quem precisava conhecer melhor o lugar onde vivo era eu!
Copacabana, um lugar que não gosto
Herika Maria Alvarenga
Desde criança, acho Copacabana um local estranho. As ruas são cheias de gentes que parecem se sentir superiores a tudo e a todos, andando como se as ruas fosse uma continuidade dos seus apartamentos. Apartamentos tão velhos como a minha avó, e olha que ela já morreu. As pessoas passam por cima, empurram e o pior não pedem licença e nem desculpa. Tem um pessoal lá muito mal educado. Até parece que não enxergam as crianças na rua pedindo qualquer coisa, a quantidade de gente pedindo esmolas e, à noite, as prostitutas (não tenho nada contra, cada um ganha a vida como pode, sei que essa profissão não é fácil). E tem outras coisas que os moradores de Copacabana sabem que tem porém são capazes de dizer que é assim mesmo, que faz parte do contexto. Muitas vezes, eles culpam outros bairros: “ah, essas pessoas que saem das suas casas para sujar Copacabana!”. Engraçado, você passeia no Arpoador, Leblon, Ipanema, São Conrado, e não tem esse amontoado de gente.
Fico a pensar porque esses moradores são assim. Muitas das vezes, eles nem têm um padrão financeiro “adequado” para Copacabana, entretanto se acham os donos do mundo, os donos da praia cantada em prosa e verso como Princesinha do Mar. Aliás, procurei e não achei quem deu este título: João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga - Braguinha) e Alberto Ribeiro? Quem cantou pela primeira vez foi o Dick Farney, no ano de 1947? Tambem pesquisei e encontrei a praia Rainha do Mar. Fica no Rio Grande do Sul. Aliás, muito linda. Os moradores de Copacabana iam morrer de inveja.
***
Tenho para mim que no Rio as ruas são faculdades;
os botequins, universidade.
João Antonio
Morando defronte à praça Serzedelo Correia, no bairro de Copacabana, João Antônio (1937-1996) foi observador privilegiado do cotidiano carioca e da expressão de seus moradores. O rápido processo de transformações da cidade nos anos 1970 é flagrado no conto-reportagem Ô, Copacabana (capa ao lado).
Em seu livro Guardador, de 1992, no conto com o mesmo título, o bairro faz pano-de-fundo para descrever o cotidiano do personagem. Eis um trecho:
***
Guardador
João Antônio
... Dizia-se. Miséria pouca é bobagem.
A praça aninhava um miserê feio, ruim de se ver. A praça em Copacabana tinha de um tudo. De igreja à viração rampeira de mulheres desbocadas, de ponto de jogo de bicho a parque infantil nas tardes e nas manhãs.
Pivetes de bermudas imundas, peitos nus, se arrumavam nos bancos encangalhados e ficavam magros, descalços, ameaçadores. Dormiam ali mesmo, à noite, encolhidos como bichos, enquanto ratos enormes corriam ariscos ou faziam paradinhas inesperadas perscrutando os canteiros. Passeavam cachorros de apartamento e seus donos solitários e, à tarde, velhos aposentados se reuniam e tomavam a fresca, limpinhos e direitos. Também candinhas faladeiras, pegajosas e de olhar mau, vestidas fora de moda, figuras de pardieiro descidas à rua para a fuxicaria, de uma gordura precoce e desonesta, que as fazia parecer sempre sujas e mais velhas do que eram, tão mulheres mal amadas e expostas ao contraste cruel do número imenso das garotinhas bonitas no olhar, na ginga, nos meneios, passando para a praia, bem dormidas e em tanga, corpos formosos, enxutos, admiráveis no todo... também comadres faladeiras, faziam rodinhas do ti-ti-ti, do pó-pó-pó, do diz-que-diz-que novidadeiro e da fofocalha no mexericar, à boca pequena, chafurdando como porcas gordas naquilo que entendiam e mal como vida alheia, falsamente boêmia ou colorida pelo sol e pela praia, tão aparentemente livre mas provisória, precária, assustada, naqueles enfiados de Copacabana. Rodas de jogadores de cavalos nas corridas noturnas se misturavam a religiosos e a cantarias do Nordeste. Muito namoro e atracações de babás e empregadinhas com peões das construtoras. Batia o tambor e se abria a sanfona nas noites de sábado e domingo. Ou o couro do surdo cantava solene na batucada, havia tamborim, algum ganzá e a ginga das vozes mulatas comiam o ar. ...
A praça aninhava um miserê feio, ruim de se ver. A praça em Copacabana tinha de um tudo. De igreja à viração rampeira de mulheres desbocadas, de ponto de jogo de bicho a parque infantil nas tardes e nas manhãs.
Pivetes de bermudas imundas, peitos nus, se arrumavam nos bancos encangalhados e ficavam magros, descalços, ameaçadores. Dormiam ali mesmo, à noite, encolhidos como bichos, enquanto ratos enormes corriam ariscos ou faziam paradinhas inesperadas perscrutando os canteiros. Passeavam cachorros de apartamento e seus donos solitários e, à tarde, velhos aposentados se reuniam e tomavam a fresca, limpinhos e direitos. Também candinhas faladeiras, pegajosas e de olhar mau, vestidas fora de moda, figuras de pardieiro descidas à rua para a fuxicaria, de uma gordura precoce e desonesta, que as fazia parecer sempre sujas e mais velhas do que eram, tão mulheres mal amadas e expostas ao contraste cruel do número imenso das garotinhas bonitas no olhar, na ginga, nos meneios, passando para a praia, bem dormidas e em tanga, corpos formosos, enxutos, admiráveis no todo... também comadres faladeiras, faziam rodinhas do ti-ti-ti, do pó-pó-pó, do diz-que-diz-que novidadeiro e da fofocalha no mexericar, à boca pequena, chafurdando como porcas gordas naquilo que entendiam e mal como vida alheia, falsamente boêmia ou colorida pelo sol e pela praia, tão aparentemente livre mas provisória, precária, assustada, naqueles enfiados de Copacabana. Rodas de jogadores de cavalos nas corridas noturnas se misturavam a religiosos e a cantarias do Nordeste. Muito namoro e atracações de babás e empregadinhas com peões das construtoras. Batia o tambor e se abria a sanfona nas noites de sábado e domingo. Ou o couro do surdo cantava solene na batucada, havia tamborim, algum ganzá e a ginga das vozes mulatas comiam o ar. ...
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O que a Copacabana de João Antonio tem a ver com a de Dick Farney?
Ouça Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle) e tente responder.
12 de novembro de 2011
Carta da Velha Mansão do Alto da Boa Vista
Rio de Janeiro, 23 de Outubro de 2011
Cara Senhora Cachoeira da Cascatinha,
Com certeza a senhora não me conhece, então apresentar-me-ei: sou a Velha Mansão construída no século XIX, sua vizinha. Localizo-me à rua Boa Vista, nº 85, e ocupo uma área construída em 1200m². Contudo, a área pertencente a minha propriedade é de 30.000m².
Já fui uma nobre residência nos áureos tempos do café, porém hoje estou em péssimo estado. Diria mesmo que de total abandono.
Dizem os senhores especuladores imobiliários de plantão, que o meu valor está em torno de 30.000 milhões de euros. Veja só que incoerência! Tenho a aparência de uma necessitada que vive passando contínuas privações.
Bem, em verdade, escrevo-lhe para fazê-la saber da grande admiração que tenho pela senhora. Além disso, queria dizer o quanto me emociona a alegria que durante muitos anos o senhor Visconde de Taunay desfrutou de sua fascinante e bela companhia.
Eu não a conheço pessoalmente, mas através de pinturas, gravuras e fotos que os meus antigos proprietários e visitantes traziam, inclusive as do senhor Rugendas, tive o prazer de contemplá-la e até mesmo compreender os comentários a respeito da beleza de suas quedas d’água.
No silêncio da noite, ouço a correria de suas águas passarem num córrego próximo, e por elas gostaria de mandar-lhe lembranças, mas elas não retornaram mais...
Assim, sem saber da sorte que no futuro espera-me, parabenizo-me por estar vivendo esses longos séculos, próximo de uma senhora tão nobre e bela, e saúdo-lhe pela graça e pelo poder de contínua renovação da vida que lhe foi outorgado pela Mãe Natureza.
Já fui uma nobre residência nos áureos tempos do café, porém hoje estou em péssimo estado. Diria mesmo que de total abandono.
Dizem os senhores especuladores imobiliários de plantão, que o meu valor está em torno de 30.000 milhões de euros. Veja só que incoerência! Tenho a aparência de uma necessitada que vive passando contínuas privações.
Bem, em verdade, escrevo-lhe para fazê-la saber da grande admiração que tenho pela senhora. Além disso, queria dizer o quanto me emociona a alegria que durante muitos anos o senhor Visconde de Taunay desfrutou de sua fascinante e bela companhia.
Eu não a conheço pessoalmente, mas através de pinturas, gravuras e fotos que os meus antigos proprietários e visitantes traziam, inclusive as do senhor Rugendas, tive o prazer de contemplá-la e até mesmo compreender os comentários a respeito da beleza de suas quedas d’água.
No silêncio da noite, ouço a correria de suas águas passarem num córrego próximo, e por elas gostaria de mandar-lhe lembranças, mas elas não retornaram mais...
Assim, sem saber da sorte que no futuro espera-me, parabenizo-me por estar vivendo esses longos séculos, próximo de uma senhora tão nobre e bela, e saúdo-lhe pela graça e pelo poder de contínua renovação da vida que lhe foi outorgado pela Mãe Natureza.
Minhas sinceras congratulações,
Velha Mansão
P.S. - Envio-lhe duas fotos minhas e uma imagem sua que guardo em minha memória.
Cascatinha, por Johann Moritz Rugendas (1822) |
Texto escrito por Maria Cristina Cezar Machado
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