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9 de julho de 2012

O Rio de Janeiro sob os olhos de uma escrava livre

Vista do Aqueduto da Carioca (Leandro Joaquim, c. 1790). A lagoa, em primeiro plano, foi aterrada para a construção do Passeio Público. O edifício no alto do morro é o Convento de Santa Teresa.
Cris Vianna
Meu nome é  Anastácia. Fui escravizada. Nasci em 12 de maio de 1741 na Bahia. Porém vivi a maior parte da minha vida em Minas gerais. Um belo dia, cansada de tudo, de tanto sofrimento, me escondi em um navio e fui parar em São Sebastião do Rio de Janeiro.

Logo que cheguei me encantei com o Aqueduto da Carioca, obra linda, pomposa! Nunca tinha visto tanta engenhosidade! Quanta água!

De lá fui até o Largo da Carioca para ver ao menos de longe a igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência e o convento de Santo Antônio. Infelizmente fui impedida de entrar... O lado de fora era belíssimo. Todo cheio de detalhes.

Parti para o Rossio, pois no navio ouvi dizer que muitos escravos se encontravam lá aos domingos, em seus poucos momentos de lazer, e foi aconchegante tudo que presenciei ali. As danças, os ritmos, que alegria! De lá, fui arrastada pelo povo até um local ali perto, chamado de campo de Sant’Anna. Lá , a alegria aumentou. A população estava  em círculos amplos, formados cada um por trezentos a quatrocentos irmãos escravos, homens e mulheres. Dentro desses círculos, os dançarinos moviam-se ao som da música, e não sei qual a mais admirável, se a energia dos dançarinos, ou a dos músicos.

Fiquei sabendo da existência de uma igreja criada pela irmandade negra, os que foram libertos, localizada na rua da Vala. Não acreditei. Pude entrar em uma Igreja sem ser expulsa! De lá, passei pela rua Aleixo Manoel e segui em direção à rua Direita, local do mercado negreiro. Me entristeci ao ver tantos irmãos sendo tratados como animais, presos e humilhados. Muito desamor! Estava chorando quando ouvi um menino gritando sobre a inauguração do primeiro Teatro do Rio de Janeiro. Pensei, isso me fará feliz.

Corri para o Largo do Paço, onde vi uma construção linda de morrer. Não sabia o que era, mas quando perguntei me disseram que se tratava da residência do rei da colônia. Fiquei olhando... Não acreditei. Então os atores chegaram e a apresentação começou: eram animados e imitavam a realeza, com trajes e pinturas engraçadas. Tratava-se de uma companhia de teatro portuguesa que inaugurava o Teatro Manuel Luiz no ano de 1798. Foi o dia mais feliz da minha vida.
A ópera Guerras de Alecrim... parodiava a ópera italiana. O título da peça se explica pelo costume de as moças casadoiras se reunirem em blocos que tinham por insígnia uma flor. Seu autor, Antônio José da Silva foi condenado em 1739 pelo Santo Ofício como judaizante. Amarrado a um poste, degolado e atirado às labaredas.
Negros dançando fandango (jongo) no Campo de Santana,
Rio de Janeiro, Brasil (1822) - Obra atribuída a Augustus Earle
Jogando capoeira
Vista do Rossio (atual Praça Tiradentes, com o pelourinho ainda de pé. Debret (1834)
Festa de Nossa Senhora do Rosário, de Carlos Julião. In: Riscos illuminados de figurinhos de broncos e negros dos uzos do Rio de Janeiro e Serro Frio.
Rua Direita (atual Primeiro de Março), de Johan Moritz Rugendas

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