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28 de agosto de 2011

Carta das cidades educadoras (final do preâmbulo)

          Vivemos num mundo de incerteza que privilegia a procura da segurança, que se exprime muitas vezes como a negação e uma desconfiança mútua. A cidade educadora, consciente deste fato, não procura soluções unilaterais simples, aceita a contradição e propõe processos de conhecimento, diálogo e participação como o caminho adequado à coexistência na e com a incerteza. 
          Confirma-se o direito a uma cidade educadora, que deve ser considerado como uma extensão efetiva do direito fundamental à educação. Deve produzir-se, então uma verdadeira fusão da etapa educativa formal com a vida adulta, dos recursos e do potencial formativo da cidade com o normal desenvolvimento do sistema educativo, laboral e social.
          O direito a uma cidade educadora deve ser uma garantia relevante dos princípios de igualdade entre todas as pessoas, de justiça social e de equilíbrio territorial.
          Esta acentua a responsabilidade dos governos locais no sentido do desenvolvimento de todas as potencialidades educativas que a cidade contém, incorporando no seu projeto político os princípios da cidade educadora.
***
          Conversando, através da troca de emails, com um amigo filósofo sobre o  emaranhado que mistura a cidade (polis) e o ser do homem, ele observou que o indivíduo e a comunidade (polis) se entrelaçam, num sentido extraordinário, e indicou a leitura de Heidegger para a fim de se buscar as possibilidades "do homem ser o vivo da polis e a polis ser o núcleo da vida do homem". Mas como? Pergunta ele: "qual a via de acesso? Por onde seguir? Como entrar na cidade e ser da cidade a cidade, e não apenas representar a cidade em seus simulacros, armadilhas e seduções que desviam e impedem o olhar? Parece mesmo haver uma constante imposição de descaminhos."
          Jaume Trilla Bernet, numa perspectiva mais pedagógica e com o linguajar didático que essa perspectiva obriga, faz uma distinção entre as escolas-cidade, as cidades-escola e as cidades educativas. As primeiras (escolas-cidade) remetem a uma experiência opressora, do vigiar-e-punir, e à noção de instituição total descrita por Foucault mas também por Althusser. Porém, remete também à  idéia da república-escolar, à experiência da escola nova, principalmente nas vertentes pedagógicas de Makarenko ou de A.S.Neill, com Summerhill que, propuseram uma revisão das escolas-cidade, implantando comunidades educativas totais. Subjacente a essas experiências imperam o desejo de autogoverno, a vocação de isolamento, revisitados pelas comunidades hippies e recentemente pelas ecovilas. 
A pedagogia de Makarenko (1888-1939) é analisada em "O Nascimento da Pedagogia Socialista", de R. Caprile
A.S. Neill em Summerhill, comunidade-escola fundada em 1921
          Já nas cidades-escola, a escola configura uma cidade pré-existente como se verifica nas cidades universitárias, impingindo-lhe ritmos, horários e calendários. Ainda que perceptível em cidades como Ouro Preto, não fosse ela também dominada pelo turismo, o fenômeno se faz sentir em qualquer outra cidade e repercute, por exemplo, na escolarização dos museus e na implantação de um regime de atividades extraescolares que sobreescolarizam as crianças, mas também na atmosfera da cidade, em seu trânsito e no perfil da lojas que atendem as demandas escolares.
Em Cambridge, cidade universitária, a bicicleta é o meio de transporte favorito.
          Na cidade educativa, contudo, a cidade é por si-só um meio educativo, no qual a escola é apenas um dos elementos disponíveis. A discussão trazida por esse conceito configura-se como um reforço ou um restabelecimento da relação íntima entre paidéia e polis, e como evolução do pensamento pedagógico em relação à importância educativa do espaço não formal. Uma importante referência é o  informe de Edgar Faure da UNESCO: “Aprender a ser” (1973), pelo qual é possível dar continuidade ao debate sobre a desescolarização da sociedade proposto por  Ivan Illich e sobre a escola sem muros.
Segundo Rosiska Darcy, Ivan Illich denuncia a transformação da educação em um bem de consumo vendido pela instituição-escola, embora seja fora dos seus muros que aprendemos a maior parte do que sabemos. (Para ler o texto na íntegra, clique AQUI.)

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