Internet tem dessas coisas. A artista Gabriela Gusmão já está em outra mas este seu trabalho merece ser revisto. Diz ela:
Por
este ensaio, fruto de meus devaneios sobre o espaço público, registro um breve
testemunho, detalhe na vastidão desse universo, retrato da utopia que alimenta
minha crença na possibilidade de reconstrução da realidade pelo olhar transfigurado
de um passante desatento às preocupações, mas alerta ao brilho do sol no canto
da lata abandonada na esquina.
Da adversidade vivemos. (Hélio Oiticica) A necessidade obriga. (Seu Veríssimo) |
Aqueles
objetos poderiam estar mortos, mas foram ativados pela dança muda da
transfiguração da matéria-prima residual em genuína arte da sobrevivência.
Tratam-se de atitudes baseadas em situações de necessidade extrema, exercidas
em caminhos cotidianos surpreendentes, através de peculiares formas de
tecnologia.
Deseduquei
minha visão a ponto de me ocupar, principalmente, de 'inutilezas' ou
"grandezas do ínfimo", como diz o poeta Manoel de Barros com sua
graça verbal. E procurei colher, na rua, imagens de uma evidência quase
invisível. Arranjos de objetos achados, improvisados ou inventados para
desenhar a realidade inadiável, a cada dia.
***
O site Viva Favela apresenta um bom resumo do que foi a sua exposição
Em busca de uma ideia para sua monografia de conclusão do curso de graduação no departamento de Artes e Design da PUC-Rio, a fotógrafa andava distraída na rua quando viu um homem com uma vara na mão e um copo pendurado na ponta. Ao perguntar o que significava aquilo, ele contou que era para chamar a atenção dos motoristas e evitar ser atropelado novamente. Aquilo a surpreendeu e ela decidiu. Tinha encontrado um belo tema para seu projeto.
Muitos objetos escolhidos fazem parte do cotidiano. Só que ali ganharam um novo conceito e utilidade. Como a 'carroça-casa', um dos destaques da exposição. O veículo tem armário, retrovisor (com CDs como espelho), fogão de duas bocas na parte de trás, bujão de gás e uma torneira com água. Outra invenção interessante é o eletricafezinho, um caminhãozinho usado para vender café, chocolate, cigarros, balas e cartão de telefone. (…) Outro invento que parece engraçado, mas que também provoca certo desconforto em quem o observa, são os óculos para 'suspensão de pálpebras caídas' de Dona Pequena. Ela, que não tem problema nenhum de visão, usa os óculos sem lentes. "Meu pai e meu irmão tinham esse problema nas pálpebras também. Já uso há pelo menos vinte anos e nunca me incomodou em nada. Às vezes, até durmo com eles", diz Dona Pequena.
O livro está disponível em pdf.
Olá Bia,
ResponderExcluirMuito interessante para usarmos de apoio para refletirmos sobre os nossos caminhos do dia a dia, novos olhares nos oferecem novas possibilidades!
Tatiane Souza
Valeu, Tatiane.Também gostei muito do trabalho da Gabriela Gusmão. A linguagem é simples, poética e cheia de significados. E por aí se vê que a rua pode educar nossa sensibilidade. Um abraço.
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