Produzido no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro - ISERJ. Nosso e-mail: cidadeeducativa@googlegroups.com

30 de abril de 2011

Ninguém mora onde não mora ninguém

Pequena reflexão sobre as pessoas abandonadas nas ruas das grandes cidades
Marcia Tiburi (Revista Cult, 09 de março de 2011)
          Nas grandes cidades, pessoas que não têm onde morar são contraditoriamente chamadas de “moradores” de rua. É um eufemismo que acoberta o quadro da injustiça social típica das sociedades em fase de capitalismo selvagem, aquele no qual a eliminação do outro é a regra. Que tantos e cada vez mais vivam nas ruas é uma prova de que o famoso instinto gregário do ser humano se esfacela, ou assume formas cada vez mais enganadoras porquanto mais voláteis em uma sociedade que é, ao mesmo tempo, de massas e de indivíduos que não têm a menor noção do que significa o outro.
          O aumento das relações virtuais em detrimento das relações “atuais” é a própria perversão das massas marcadas pela anulação física individual em nome de um eu abstrato, sustentado apenas como imagem, como avatar. E que tem como correspondente um outro reduzido à sua mera abstração. Há, certamente, exceções para a regra da distância com que o eu mede o outro.
          Dizem as pesquisas que o número de pessoas vivendo sem teto cresceu nos últimos anos por causa do desemprego. E são milhares. Motivos além do desemprego podem confundir quanto ao sentido (e o sem sentido) da complexa experiência vivida por essas pessoas. Afinal, pode-se encontrar entre os que vivem nas ruas até mesmo quem não se sente em situação de injustiça social.
          A população das ruas das grandes cidades é composta de habitantes (ou desabitantes) provisórios ou não, que estão ali por motivos diversos. Muitas vezes são afetivos. Não é raro encontrar ricas histórias de vida entre as pessoas sem morada, desde aquele que renunciou à vida burguesa por considerá-la insuportável, até quem por meio de inesperadas leituras filosóficas criou um significado para o ato de “habitar” a transitoriedade, ou seja, “desabitar” instransitivamente e estar assim, na mera existência.
          Que não habitar uma casa possa significar uma experiência existencial é, no entanto, apenas a exceção que confirma a regra da contemporânea injustiça social a cuja base racional e afetiva tantos entregam as forças. Renunciar, desistir, jogar a toalha, permitir-se a impotência como o Bartleby, de Melville, ou o fracasso, como um dia afirmou J. L. Borges, pode ser o único modo de viver em um mundo marcado pela melancolia e pelo sem sentido em termos políticos, estéticos e metafísicos.
          O cenário social contemporâneo é o espaço e o tempo dessa possibilidade de fracasso que diz respeito à potencialidade mais profunda de nossos tempos. É a forma mais terrível do mal, a da banalização que se estabelece na vida humana como força lógica. Como um “deixar acontecer” ao qual damos o nome de “abandono”, esse ato de exílio, de ostracismo, de curiosa rejeição sem ação. A mendicância das pessoas é apenas a verdade íntima do capitalismo como mendicância da própria política deixada a esmo em nome de antipolíticos interesses pessoais. A mendicância é a imagem social das escolas, dos hospitais públicos, do salário mínimo…
          Democracia de teto e paredes

          “Moradores de rua” são a figura mais perfeita do abandono que está no cimo da devoração capitalista. Convive-se com eles nos bairros elegantes das cidades grandes como se fossem um estorvo ou, para quem pensa de um modo mais humanitário, como um problema social a ser resolvido filantropicamente. Alguns moram em lugares específicos, têm sua “própria” esquina, carregam objetos de uso aonde quer que vão, outros perambulam a esmo desaparecendo da vista de quem tem onde morar. São meras fantasmagorias aos olhos de quem não é capaz de supor sua alteridade. Esmagados pela contradição de morar onde não mora ninguém, não têm o direito de ser alguém. Partilham o deslugar. E, no entanto, praticam o mesmo que os outros dentro de suas casas: dormem, comem, fazem sexo. A condição humana é o que se divide por paredes ou na ausência delas. A democracia torna-se uma questão de nudez e exposição da vida íntima.
          Ninguém “mora na rua”; antes, quem está na rua não mora. Quem está fora dos básicos direitos constitucionais está excluído da sociedade. E muito mais além da Constituição, está excluído pelo próprio status com que é medido. O status de “morador de rua” é apenas um modo de incluir os excluídos na ordem do discurso acobertadora do fascismo prático de cada dia oculto sob o véu da autista sensibilidade burguesa. Se o princípio de autoconservação a qualquer custo é a base da ação de indivíduos unidos na massa, está imediatamente perdida a dimensão do outro sem a qual não podemos dizer que haja ética ou política. Mesmo sob o status de morador de rua, o mendigo da nossa esquina é a prova do fracasso de todos os sistemas. Se as estatísticas não mudarem comprovando que a tendência da exceção pode ser a regra, talvez a democracia de teto e paredes não sirva mais a ninguém em breve. Só que às avessas.

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Para gerar visibilidades

O Coletivo Heróis do Cotidiano, liderado pela professora Tania Alice, da Escola de Teatro da Unirio. faz performances nas ruas para mostrar a importância de pequenos atos, como por exemplo, chamar atenção de cidadãos invisíveis, colocando-se ao lado deles, na mesma posição, enquanto dormem nas ruas, em bancos ou no chão.


Pequenos atos heróicos podem ser feitos por qualquer pessoa no dia a dia.

28 de abril de 2011

Memórias da cidade (exposição)

De 6 de abril a 22 de maio de 2011
Avenida Rio Branco, 241 - Centro
(21) 3261-2550
De 3ª feira a domingo, das 12h às 19h
Entrada franca

Coleção de fotografias do cotidiano do Rio de Janeiro nos anos 1950 e 1960

Memórias da Cidade reúne 34 fotos impressas a partir de negativos no formato de 120 mm (considerado por especialistas como um clássico da fotografia analógica) e traz, em uma sala especial, uma projeção multimídia com aproximadamente 40 fotos. Para a exposição, o curador Ricardo Mello, gerente da Agência O Globo, buscou um olhar além do fotojornalismo. “Ao longo dos anos, em nosso trabalho com imagens, nos deparamos com fotografias do Rio de Janeiro de décadas passadas que nos saltavam aos olhos; tanto pela qualidade de suas composições, como pelo charme dos espaços urbanos e a atitude das pessoas que os ocupavam. As imagens tinham características diferentes do fotojornalismo e contavam a história da cidade, a partir de uma visão artística, em preto e branco. Assumimos o desafio de criar uma cadência visual, que representasse o ar romântico e elegante do dia a dia das décadas de 50 e 60 e que pudesse ser mostrado ao público", afirma.

26 de abril de 2011

Eu tomo conta do mundo

Clarice Lispector
          Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar, e vejo às vezes que as espumas parecem mais brancas e que às vezes durante a noite as águas avançaram inquietas, vejo isso pela marca que as ondas deixaram na areia. Olho as amendoeiras de minha rua. Presto atenção se o céu de noite, antes de eu dormir e tomar conta do mundo em forma de sonho, se o céu de noite está estrelado e azul-marinho, porque em certas noites em vez de negro parece azul-marinho. O cosmos me dá muito trabalho, sobretudo porque vejo que Deus é o cosmos. Disso eu tomo conta com alguma relutância.
          Observo o menino de uns dez anos, vestido de trapos e magérrimo. Terá futura tuberculose, se é que já não a tem.
          No Jardim Botânico, então, eu fico exaurida, tenho que tomar conta com o olhar das mil plantas e árvores, e sobretudo das vitórias-régias.
          Que se repare que não menciono nenhuma vez as minhas impressões emotivas: lucidamente apenas falo e algumas das milhares de coisas e pessoas de quem eu tomo conta. Também não se trata de um emprego pois dinheiro não ganho por isso. Fico apenas sabendo como é o mundo.
          Se tomar conta do mundo dá trabalho? Sim. E lembro-me de um rosto terrivelmente inexpressível de uma mulher que vi na rua. Tomo conta dos milhares de favelados pelas encostas acima. Observo em mim mesma as mudanças de estação: eu claramente mudo com elas.
          Hão de perguntar por que tomo conta do mundo: é que nasci assim, incumbida. E sou responsável por tudo o que existe, inclusive pelas guerras e pelos crimes de leso-corpo e lesa-alma. Sou inclusive responsável pelo Deus que está em constante cósmica evolução para melhor.
          Tomo desde criança conta de uma fileira de formigas: elas andam em fila indiana carregando um pedacinho de folha, o que não impede que cada uma, encontrando uma fila de formigas que venha em direção oposta, pare para dizer alguma coisa às outras.
          Li o livro célebre sobre as abelhas, e tomei desde então conta das abelhas; sobretudo da rainha-mãe. As abelhas voam e lidam com flores: isto eu constatei.
          Mas as formigas tem uma cintura muito fininha. Nela, pequena como é, cabe todo um mundo que, se eu não tomar cuidado, me escapa: senso instintivo de organização, linguagem para além do supersônico aos nossos ouvidos, e provavelmente para sentimentos instintivos de amor-sentimento, já que falam. Tomei muito conta das formigas quando era pequena, e agora, que eu queria tanto poder revê-las, não encontro uma. Que não houve matança delas, eu sei porque se tivesse havido eu teria sabido. Tomar conta do mundo exige também muita paciência: tenho que esperar pelo dia em que apareça uma formiga. Paciência: observar as flores imperceptivelmente e lentamente se abrindo.
          Só não encontrei ainda a quem prestar contas.

25 de abril de 2011

Carta para um lugar no Rio de Janeiro - Meu querido Grajaú

Mônica S. Vallim
Quando vim morar no Rio de Janeiro, tinha uns 15 anos e a cidade não era violenta como é hoje. Havíamos sido criados em casas com quintais, e era a primeira vez que moraríamos num apartamento, mas qual não foi a minha surpresa ao me deparar com aquela vista privilegiada. Da janela do meu quarto eu avistava uma floresta! Parecia um quadro emoldurando uma paisagem.
Guardo as boas lembranças de uma pedra enorme que se destacava da vegetação, e que parecia a morada da lua e do sol. No entardecer, pouco a pouco, o sol se escondia por trás dessa pedra e o céu anunciava com seu multicolorido de tons mais escuros o fim de mais um dia. Era um espetáculo místico, todos os fins de tarde, apreciar a chegada da noite da minha janela. Às vezes, a escuridão do céu escondia a grande pedra e a floresta, e eu apreciava apenas as estrelas, mas quando era noite de lua cheia a grande pedra também brilhava. Parecia que ela piscava e me convidava a desvendá-la.
Todas as vezes que avistava aquela pedra, eu prometia a mim mesma bem baixinho: um dia eu vou tocar em você, um dia te verei de pertinho.
Mas eu era recém chegada numa cidade grande, num colégio novo, com suas “panelinhas” formadas. Tinha apenas meus irmãos como amigos. Meus colegas da antiga escola, das brincadeiras de rua, ficaram em outros estados que morei. Contudo, sobrevivi à adolescência, apesar ou, quem sabe, justamente por ter esta pedra em meu caminho.
***
Um dia, meu irmão caçula de 11 anos me confidenciou que iria às escondidas fazer uma caminhada até a Pedra com um amigo. Pediu segredo. Aproveitei-me da situação e impus uma condição. Eu guardaria o segredo se me levassem e, para a minha surpresa, eles prontamente concordaram. Também pudera, quem era a mais velha naquela aventura secreta? O certo é que dissemos em casa que iríamos fazer uma caminhada pelo novo bairro, sem especificar o local. Omissão não é mentira, é esquecimento estratégico, pois se anunciássemos aonde iríamos ouviríamos um sonoro não. Eu nem dormi direito na véspera de tanta ansiedade e medo de sermos descobertos. Durante a madrugada preparamos o lanche, biscoitos, sanduíches e enchemos nossos cantis com água fresca.
Durante o café da manhã, ainda catamos umas frutas e um bom pedaço de bolo de cenoura para comermos pelo caminho, e partimos animados com nossos trajes de praia escondidos por baixo da roupa. Partimos da Rua Uberaba, em direção à Reserva Florestal do Grajaú na Rua Comendador Martinelli 740, especificamente em direção ao Pico do Perdido que também é conhecido por Bico do Papagaio ou Pedra do Andaraí. Meu irmão disse que havia uma cachoeira por lá.
Embora morássemos em apartamento, durante o trajeto até a Reserva observamos que existiam poucos edifícios. Ainda havia muitas casas com quintais enormes e arborizados em nosso bairro. Algumas ruas até tinham árvores enormes. A avenida Engenheiro Richard me chamou a atenção por ser repleta de tamarineiras.
Quando chegamos, a Reserva ainda estava fechada e tivemos que esperar a abertura dos portões por quase meia hora. Mas a espera foi recompensada quando começamos a explorar aquele paraíso. À medida que seguíamos em direção ao Pico do Perdido olhávamos a cidade lá do alto. Tudo parecia pequeno e silencioso. Dava a impressão que a cidade ainda não tinha acordado direito. Sentíamos-nos distantes do barulho e do caos urbano de buzinas e freadas. Ao longe, ouvíamos o apito de uma fábrica.
***
O nosso experiente guia, embora fosse o mais alto, era uns três anos mais novo que eu, mas conhecia bem aquelas trilhas, pois já havia feito outras caminhadas por ali. De repente, percebi – já não avistava ou ouvia mais a cidade. Estávamos dentro da floresta . O que se ouvia eram uns piados estranhos, barulho de bicho correndo na mata, o canto distante de algum pássaro e o cri-cri constante dos grilos. Observávamos atentamente o caminho, pois alguns animais diferentes podiam estar escondidos, camuflados nas folhagens, e podíamos pisar neles sem querer. Foi então que ouvimos um barulho... da cachoeira! Apressamos o passo. Eu estava cansadíssima, sugeri uma parada para o lanche, mas queríamos aproveitar aquela fartura de água e não podíamos nos demorar ali, pois o objetivo era chegarmos ao Pico e estarmos de volta em casa antes das três horas da tarde para não levantar suspeitas.
A parada foi rápida e refrescante. Resolvemos deixar o lanche para mais tarde quando chegássemos ao Pico, e logo retomamos a caminhada.
A trilha foi longa e repleta de surpresas. Em cada canto da floresta se descobria uma novidade. Vários insetos e plantas diferentes com coloridos exóticos, borboletas gigantescas, micos, camaleões. Lembro que também cruzamos com uma cobra, era uma jararaca. Deu medo, mas como não mexemos com ela, conseguimos passar tranquilamente.
***
Caminhar por tuas matas me deu uma enorme paz e satisfação. Gerou um encantamento nunca dantes experimentado e, mesmo cansada, em nenhum momento pensei em desistir.
Finalmente quando chegamos ao Pico do Perdido e pus as mãos em você, senti o teu calor, foi como se me passasse um pouco da tua energia boa, e a sensação de que havia te encontrado perdura até hoje. Os meninos resolveram ir até o cume, mas naquele momento eu me contentei em ir até ali. Porém, agora que estamos separadas por uma serra, todas as vezes que desço a Grajaú-Jacarepaguá a caminho do Instituto de Educação, e te avisto de longe, toda imponente e poderosa, bate uma saudade danada daquela aventura e eu repito baixinho só pra mim: um dia te toco de novo grande pedra.
Fontes

21 de abril de 2011

As cidades

          Estavam no poente luzidias,
          Acesas e magnéticas chamando
          Sob o infinito céu das tardes frias.

                                            Sophia de Mello Breyner Andresen

JMGLA

20 de abril de 2011

De fazenda a bairro (carta de agradecimento ao Meier)

Alex Andrade
Tornamos público a tua promoção, por serviços prestados por tão longa data, de Fazenda  a Bairro, ó MAYER. Desde muito cedo já notávamos tua personalidade aflorada. Tudo começou com o desentendimento daqueles fazendeiros, que se diziam donos de ti, e com os Jesuítas, que acabaram sendo expulsos  pela Coroa Portuguesa.

De Fazenda a Bairro, em 13 de maio de 1889, sempre demonstrando um coração bondoso, acolheste a todos, inclusive os escravos fugidos que formaram quilombos  na Serra dos Pretos-Forros.

No primeiro plano, Taquara, Tanque, Pechincha, Freguesia e Linha Amarela. Ao fundo: a Serra dos Pretos Forros

Nome imponente: Augusto Duque Estrada Mayer.
Daí ao progresso foi um pulo. E você se tornou um dos lugares mais valorizados da Zona Norte: Estação ferroviária, o jardim do Méier.
          Ah, o jardim do Méier, que alegria e encantamento! Os passeios com meus pais, o teatro de marionetes, as fotos com o lambe  lambe (como podia, de dentro daquele pano preto, sair uma foto?) E depois da foto, cinema Imperator a maior sala de cinema da América Latina com 2.400 lugares, passear pelas barraquinhas, quanta nostalgia.
          Já ia me esquecendo dos discursos políticos e paradas cívicas que meu pai adorava, enquanto minha mãe não perdia as apresentações musicais e os eventos religiosos. Aliás, quando começou a construção da Basílica do Sagrado Coração de Maria, não tinha um só dia que minha mãe não passasse em frente às obras, como se ela fosse a arquiteta responsável.
          E você, acolhedor Méier, sempre pronto a receber novas construções. Mais tarde para o deleite de meu pai, foi a vez dele, acompanhar as obras do Sport Clube Mackenzie. E quando ficou pronto, as tardes de domingo eram sempre na piscina. Mas o lugar seu que mais me encantava eram as escadarias, pareciam as mais altas do Rio. Era como se eu estivesse no céu. Lá do alto podia avistar o porto, pois você era baixo, depois cresceu e não conseguia mais ver nada. Que pena!
          Mesmo não tendo as praias  por perto, sempre que íamos até elas, eu trazia um punhado nos bolsos e as espalhava ao longo das suas calçadas. Em compensação, podíamos apreciar as belas montanhas que lhe cercavam e a sua calmaria que nos permitia a paz de espírito.
          Portanto e por muito mais, faltam-me palavras e espaço para agradecer pelo acolhimento, Rabisquei estas palavras para que todos sejam conhecedores da sua grandeza, querido Bairro.

As muitas faces de Jorge (exposição)

Clique na imagem para ampliar.

18 de abril de 2011

Roteiros Geográficos do Rio (UERJ -NeghaRIO) - Abril

(Re)Conhecendo o Centro do Rio a Pé 24 de abril de 2011Domingo de Páscoa - encontro no alto do pátio do Mosteiro de São Bento (rua Dom Gerardo 40 5º andar – pela rampa rua Dom Gerardo 68) – às 9 horas e 55 minutos Itinerário: Mosteiro de São Bento (assiste-se a cinco minutos da missa com cantos gregorianos), Vista Panorâmica da Praça Mauá, Área Portuária e Baía de Guanabara, Av. Rio Branco, Largo de SantaRita/Largo da Sardinha, Rua Teófilo Otoni (e de Lamartine Babo), Av, Presidente Vargas, Igreja Nossa Senhora da Candelária (visita), Centro Cultural Banco do Brasil (intervalo de 15 minutos), Centro Histórico Beira-Mar, Rua Buenos Aires, Beco das Cancelas, Rua do Ouvidor, Travessa do Comércio/ sobrado de Aurora e Cármen Miranda, Praça XV, Paço Imperial e de Isabel de Orleans e Bragança (somente maquete do Centro do Rio e janela da anunciação da assinatura da Lei Áurea), Palácio Tiradentes, Rua São José, Largo da Carioca. Término: 14 horas.
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Roteiro Noturno do Rio a Pé 27 de abril – quarta-feira - encontro no adro da Catedral Presbiteriana (Praça Tiradentes com rua da Carioca) às 20 horas - Cel. (21) 8871 7238 Roteiro: Iluminados prédios da Catedral Evangélica do Rio de Janeiro e Real Gabinete Português de Leitura – Centro Cultural Carioca – Igreja Nossa Senhora da Lampadosa – Av. Passos – Território da “daspu” – Praça Tiradentes dos teatros seculares e dos modernos hotéis – Rua da Constituição – Gomes Freire dos hotéis de alta rotatividade – Lavradio dos antiquários e casas de shows de iluminação mutante – Quarteirão Cultural e do Rio Scenarium – Esplanada de Santo Antonio – Largo Braguinha – Mem de Sá dos sobrados exuberantes, samba de raiz, marchinhas, mambo, funk, rock, travestis e mitológica malandragem – Seculares e simbólicos Arcos da Lapa – Rua Joaquim Silva – Escadaria Selaron – Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa – Sala Cecília Meireles
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Caminhando entre luzes no Centro do Rio à noite 29 de abril – sexta-feira – encontro nos degraus da Casa França-Brasil (em frente à Candelária) 20 horas http://www.roteiros.igeog.uerj.br/ cel. 88717238 Itinerário: Luminoso Centro Cultural Banco do Brasil – Alfândega/Casa França-Brasil do Rio Joanino –– Igreja Nossa Senhora da Candelária, Fonte de Luz e de Fé – O iluminamento do Centro Cultural dos Correios – Rua Primeiro de Março – O foco de luz distante e permanente do Antigo Senado e da Catedral de Benedito e da Senhora do Rosário – O diálogo do Rio Colonial com a Cidade Maravilhosa – O Varandão do Centro Cultural da Justiça Eleitoral – Rua do Ouvidor, logradouro inicial da iluminação a gás e da energia elétrica no espaço coletivo Carioca, de Machado de Assis e Chiquinha Gonzaga, bem como dos primeiros acordes do Carnaval Carioca, das lutas pelo abolicionismo e a República e das Confeitarias e lojas elegantes – O brilho das estrelas Cármen e Aurora miranda no sobrado da Travessa do Comércio – O iluminamento da antiga Catedral da Sé/Igreja do Carmo – De volta à claridade do Convento dos Carmelitas – Paço Imperial e da Luminar Isabel de Bourbon e Bragança – Os refletores sobre Tiradentes e ALERJ – O brilho e o requinte dos antigos Ministérios da Fazenda, do MEC e a austeridade do Ministério do Trabalho – Luzia dos Santos e Geográficos olhares – A Academia Brasileira de Letras - As novas Torres da Esplanada do Castelo – O Universo de extrema luminosidade da Cinelândia e seus Majestosos Prédios – A iluminância do jovem Theatro Municipal e da Biblioteca Nacional, o Boêmio Amarelinho, a Câmara dos Vereadores/Palácio Pedro Ernesto, O Centro Cultural da Justiça Federal, O eterno e resplandescente Cine Odeon – Metrô, uma sentinela luminosa a nos conduzir por lunares e ensolaradas Geografias.
Roteiros Geográficos do Rio Projeto de Extensão da UERJ -NeghaRIO – Núcleo de Estudos sobre Geografia Humanística, Artes e Cidade do Rio de Janeiro – Secretaria Municipal de Cultura Roteiros a pé e grátis – com tempo chuvoso, roteiros cancelados Coord.: Prof. Dr. João Baptista Ferreira de Mello Empenhado em reverenciar a nossa OLÍMPICA E MARAVILHOSA CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO E DE SÃO JORGE GUERREIRO Menção Honrosa categoria Educação e Cultura / Prêmio Mobilidade Urbana da FETRANSPOR Cel. (21) 8871 7238 roteirosgeorio@uol.com.br Twitter: @roteirosgeorio www.roteiros.igeog.uerj.br

Torna-te quem tu és – pequeno estudo sobre a essência

Pont Neuf, em Paris, embrulhada por Christo e Jeanne Claude (1975-85) http://www.christojeanneclaude.net/pn.shtml
Arnaldo Bloch
Já tentaste olhar a tua própria cidade com olhos estrangeiros? Para tanto é preciso soltar os olhos e a mente e, durante longos minutos, te esqueceres de quem és, de tua condição socioeconômica-cultural-mental-gástrica, de teus níveis e teus desníveis no banco, na banca e no peito, de teus preceitos, teus conceitos, teus preconceitos – e só olhar, olhar sem observar, olhar sem olhar, só ver. Ver sem pensar, sem julgar, mais que distraidamente, os corpos em movimento e a inércia também. Trata-se de um olhar estrangeiro, de ver a essência da cidade em todos os lugares, seja em que porção dela for, pode ser na praia, pode ser na Avenida Copacabana, pode ser em Realengo, pode ser no jongo, pode ser na linha de trem, a essência está ali, e pronto, não tem mais nem menos, não tem bordo nem estibordo, é cidade.
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O olhar estrangeiro para a própria cidade é mais impactante que a experiência de conhecer uma cidade nova de fato, no próprio país ou numa viagem ao exterior, por exemplo. O olhar estrangeiro para a própria cidade parece-se mais com o primeiro olhar, aquele que se tem da cidade e das pessoas e das coisas quando se é criança, quando se começa a conhecer o mundo. É um tempo em que a cidade, a rua, a casa, a mãe, o pai, a loja, a árvore, o céu, a moça, a terra, a vida, o sono, o gelo na bebida amarela, o mar, o cachorro, o cheiro, chocolate, os olhos, o espelho, a música, as cigarras, o verão, o gorro, o inverno, a bola, o jogo – é tudo a mesma coisa: mundo.
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A cidade surge, Boccioni, 1910
Esse olhar estrangeiro para a própria cidade pode ser um fator de êxtase quando nos acostumamos a outros olhares, impregnados de problemáticas e frustrações matemáticas, impregnados do nosso ódio e da nossa culpa, do nosso medo dos outros e de nós, da nossa tristeza com a miséria, da nossa falta de falarmos uns com os outros sem que algo sempre pareça estar fora do lugar, sem que a sombra da mentira paire e a confiança seja carregada pelo vento. A culpa, aliás, é o mais forte inimigo desse olhar mais que distraído, tão fundamental. A culpa nos diz: “Não tens o direito de, ao menos por umas horas, ou minutos mesmo, sentir-te feliz, pois o mundo lá fora desaba e a injustiça impera, estou aqui, a culpa, a desafiar-te, a patrulhar teus sentidos egoístas.” Mas dar folga ao mundo cá dentro é um dever pessoal, o de encontrar esse tempo, o da coragem de descartar um pouco o drama lá fora e manejar um pouco as cartas do teu corpo, da tua mente, da tua emoção, em benefício da tua paz interna. Esse olhar, a capacidade de procura-lo e de tê-lo, é um olhar que nos afasta da violência (a nossa violência, bem entendido), do nosso próprio fundamentalismo, das nossas pulsões de agir sem pensar e de só pensar depois de agir.
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Nova Babilonia, Constant Nieuwenhuis, 1963
É a partir desse olhar, na interação com a cidade e com o mundo, que encontras a porta para a tua própria essência, de ver-te e sentir-te menino diante de tudo, e de captar, nessa experiência, atua própria alma, no sentido mais concreto, biofísico, da palavra, e de voltar para a civilização constituída com mais força de viver, de confiar, de acreditar, de ajudar. Pode não parecer, mas a razão – da qual precisamos para enfrentar a vida dentro das normas socialmente estabelecidas – só funciona direito se somos capazes de lhe dar um chega-pra-lá e sonhar, rir um pouco de tudo, largar de ser mané e de achar sempre tudo uma merda. Qualquer um é capaz disso, e muitas vezes, o mané que está na pior é ainda mais capaz disso que o mané que, estufado, balança lá do topo. Aliás, o topo e o pior podem facilmente se confundir. Tudo depende dessa gangorra entre olhar, pensar e ser, ou não ser, quem tu és. [...]
O Globo, 04/02/2006

15 de abril de 2011

Araçuaí

Quem conhece, quer saber mais. Quem nunca foi, precisa. Quem não ouviu falar, tá mais do que na hora. O vídeo abaixo já é antigo. Estava na memória. Tenho, em algum lugar deste computador, uma entrevista do Tião Rocha na Caros Amigos. Na web se acha fácil. Só como tira-gosto aí vai. Araçuaí: uma cidade educativa

12 de abril de 2011

Aprender na cidade - uma entrevista sobre o massacre de Realengo


Escola de Segurança Máxima?
Julio Groppa Aquino
9 de abril de 2011
          Um velho apresentador de TV costumava dizer que não tinha vindo para explicar, e sim para confundir. Na quinta-feira, ainda na quentura dos acontecimentos em Realengo, o professor Julio Groppa Aquino, da Faculdade de Educação da USP, ecoava metade daquele bordão. Ele não queria explicar o atirador que matou pelo menos 12 crianças em uma escola no subúrbio do Rio e depois se suicidou. Desconfiava que explicações viriam às pencas, inevitáveis, nauseantes. E nenhuma delas nos convenceria. Na sexta pela manhã, ao responder às perguntas do Aliás, ele mantinha a vontade de não explicar e, dando passagem à outra metade do bordão, adicionava ao tema grossas pitadas de confusão (e provocação), para daí extrair reflexões e nos fazer pensar além.
          Psicólogo de formação, pesquisador da violência e da indisciplina no ambiente escolar e um dos críticos mais contundentes dos rumos educacionais do País, Aquino se debruçou sobre o que vem agora, depois da tragédia e do luto. Ele acha, por exemplo, que o estilo bunkerista das escolas, reproduzido das casas, dos condomínios e centros comerciais, será desgraçadamente reforçado.
           "Estaremos ensinando às crianças e jovens que só é possível conviver com seus concidadãos se houver um policial ao lado", lamenta.
           Na entrevista a seguir, Aquino também fala da sociedade que se nutre de violência e do papel dos professores na identificação de tendências violentas nos alunos: "Sala de aula não é consultório médico, e o alunado não é um corpo doente".
O que deixa você mais indignado a respeito do que aconteceu em Realengo?
 A tônica é mais de consternação do que de indignação. E consternação pelo fato de que, quando a potência da vida é banalizada a ponto de ser tratada a sangue-frio, algo de terrível parece estar se gestando entre aqueles que vivem nas grandes cidades: o medo indelével do outro. Episódios como o de Realengo parecem ser uma mostra da tensão imanente às trocas sociais na atualidade e, em última instância, uma prova de fogo para a própria democracia.
Como assim?
          A escola está para a democracia do mesmo modo que a delegacia de polícia estava para a ditadura. Ou seja, delegamos à escola o trato de todos aqueles problemas sociais intrincados, os quais exigem respostas imediatas e que, antes, eram facilmente equacionados à força. Daí que hoje, quando escola e violência social se juntam no imaginário das pessoas, é a própria imagem da democracia que está em jogo, já que boa parte do que costumamos entender como convívio democrático repousa na esperança de que ensinemos as crianças e os jovens a serem cordatos, pacíficos e, em última instância, seres obedientes e resignados, não importa com o quê.
Em nosso primeiro contato telefônico você disse que estava menos preocupado com o que aconteceu e mais com o que vai acontecer. O que vai acontecer? E, sobretudo, o que não será dito?
Os acontecimentos serão intensamente processados no imaginário social do País. E muitos se valerão da ocasião para exigir mudanças, desde aquelas relacionadas ao desarmamento da população até aquelas relativas a um reforço de medidas de segurança, incluindo maior policiamento das escolas. São dois exemplos contraditórios, já que se trata de um clamor social ambivalente: diminuem-se os riscos de um lado, aumentam-se de outro. Se quisermos alguma espécie de trégua na violência, ela deverá contemplar, sobretudo, uma moderação radical da ação policial, ela própria responsável pela morte de um grande contingente de jovens, este que é o segmento social mais penalizado pela violência no País.
Duas reações ao episódio que eu gostaria que você comentasse: José Sarney sugeriu ‘segurança pública’ no currículo escolar e Cristovam Buarque falou de resgatar um projeto de lei de autoria dele que cria a Agência Federal para a Coordenação de Segurança Escolar, para ‘garantir a segurança em torno das escolas e a paz na sala de aula’.
A manifestação do Cristovam Buarque é um exemplo do que eu apontava antes: a fantasia de que um reforço do policiamento é a única saída para a manutenção da dita "paz nas escolas", o que me parece um argumento arriscado. Estaremos ensinando às crianças e jovens que só é possível conviver com seus concidadãos se houver um policial ao lado, o que, aliás, já se passa com os estratos urbanos de classe média alta, todos eles entrincheirados em seus bunkers e rodeados por seguranças. Quanto à proposta do velho ex-presidente, ela é bem conhecida de todos e igualmente arriscada: quando desponta um problema social insolúvel, que o insiramos no currículo. Desse modo, acabamos tendo uma escola que pretende ensinar tudo no que se refere ao exercício da cidadania e que muito pouco ensina sobre língua, ciências e artes. Uma saída tão fácil quanto problemática, a meu ver.
Você falou em bunker. As escolas se parecem cada vez mais com eles, não é? Grades, portões, cadeados, vigias, câmeras... Depois do que aconteceu no Rio, como evitar que esse estilo bunker se acentue nos colégios? Será o fim do ideal de integrar as famílias na vida escolar dos filhos, tornar os pais mais participativos, etc.?
O estilo bunker apenas será reforçado, já que se trata de uma realidade muito bem instalada entre nós. Por exemplo, o bunkerismo escolar da classe média (e também das residências, dos centros comerciais, das instituições privadas como um todo) é contemporâneo à instalação generalizada das películas nos vidros dos automóveis. Trata-se de uma mostra de como a ideia de segurança já está completamente enraizada no imaginário social como um serviço indispensável - vital, para ser mais preciso - a uma parcela crescente da população. O problema é que quanto mais nos isolamos do contato com as outras parcelas da população (mais numerosas, por sinal) maiores são os riscos de confronto nesse encontro, a rigor, inevitável. Ora, as escolas públicas são exatamente esse ponto de contato entre diferentes parcelas da população. E isso nada tem a ver com a maior participação das famílias na vida escolar, no sentido de pacificar esse encontro. Família e escola, a meu ver e diferentemente dos clichês habituais empregados na discussão, são instâncias sociais paralelas e incidentais, e assim devem permanecer.
Abrir fogo contra inocentes dentro de uma escola tem algum significado especial? Por que na escola e não no supermercado, na academia de ginástica, na feira, no metrô?
Se for correta a hipótese da espetacularização da violência e também a da escola como figura institucional emblemática da contemporaneidade democrática, entende-se que as unidades escolares passem a ser alvos privilegiados de ataque, quando o que está em questão é o rompimento do pacto social. O curioso é que isso costuma acontecer nos ditos países desenvolvidos, e não em países periféricos. Já aconteceu na Finlândia, no Canadá, na China e, sobretudo, nos Estados Unidos. Seria um indício do ingresso do Brasil na rota do dito desenvolvimento socioeconômico?
Na quinta-feira, nós procuramos a escritora americana Lionel Shriver, autora do romance Precisamos Falar sobre o Kevin, que conta a história de um casal que vê o filho se tornar um desses atiradores de escola. Ela não quis dar qualquer tipo de declaração, argumentando o seguinte: ‘Eu não falo mais desse assunto porque percebi que, quanto mais falo, mais as pessoas se inspiram a cometer a mesma barbaridade’. Até que ponto há imitação em casos assim?
São duas as possibilidades, antagônicas inclusive, de entendimento da questão. A primeira: não, ninguém tem o condão de ensinar ninguém a ser violento nem a ser o contrário. As pessoas são violentas ou pacíficas, e as duas coisas ao mesmo tempo, a depender de uma miríade de condições; e talvez nenhuma delas passe pela "inculcação" pedagógica de valores ou de contravalores. Portanto, tranquilizemo-nos. De outro lado, ensinamos intensamente as crianças e os jovens a se tornarem consumidores vorazes de determinados bens e serviços. Ora, a espetacularização da violência é, por incrível que pareça, um entre tantos bens culturais à disposição para consumo. O mundo contemporâneo nutre-se de violência; ela é uma moeda corrente no cinema, por exemplo, ou na internet. Daí que a questão do determinismo pedagógico sobre os atos de violência é, a meu ver, insolúvel, ou seja, não se pode precisar ao certo se estamos ensinando nossas crianças e jovens a serem violentos, ou não.
Um ex-colega do atirador de Realengo o definiu como ‘o bobo da classe’ nos tempos de escola. Diz-se que ele também sofria gozações por ser manco. O chamado bullying é de fato um desencadeador de violência?
Não há razão para imaginarmos uma escola em que não haja tensões, na forma de rivalidade e, no limite, humilhação entre os alunos. Todos sofremos esse tipo de coisa e sobrevivemos. Isso não é desejável, mas acaba fazendo parte das relações entre as crianças e jovens e, em grande medida, deles com os mais velhos. E em mão dupla, frise-se. No entanto, a epidemia do dito bullying parece ter se tornado a alegação principal da imensa maioria daqueles que, por um ou outro motivo, sentem-se em desvantagem civil, o que poderia, a rigor, incluir todos nós. Penso ser temerário e, de algum modo, demasiado fácil supor que o tal bullying seja desencadeador de atos violentos. Ao contrário, a explosão dos casos em que se alega haver bullying é uma mostra incontestável da cultura de vitimização psicologizante que vem se instalando entre nós.
Cabe aos professores identificar tendências violentas nos alunos?
Imaginar que professores deveriam fazer diagnóstico psicológico/psiquiátrico é uma aberração. Sala de aula não é consultório médico, e o alunado não é um corpo doente, portador de anomalias. No entanto, os professores demandam diagnósticos desse tipo com regularidade, o que não impede que tenhamos a educação miserável que temos. Ou seja, a resposta propriamente pedagógica para isso é nula.
Que relação as crianças sobreviventes terão com a instituição escola depois de sofrer um trauma desse tamanho lá dentro?
Prospecções dessa natureza me parecem sempre inócuas e, por isso, fadadas ao fracasso. Mais ainda, no fito de antever efeitos, elas podem causá-los ou intensificá-los. Há, por exemplo, um sensacionalismo injustificável da mídia na cobertura do evento ao entrevistar os jovens envolvidos de uma maneira que beira a irresponsabilidade, convertendo todos, eles e nós, em reféns da espetacularização. O momento exige sobriedade e certo distanciamento, à moda dos antigos, de modo que seja possível decantar as informações, e não ser assediado por elas. Se quisermos honrar os mortos de fato, precisaremos mais do que alguns minutos de silêncio. Precisaremos nos aquietar. Outra questão: nem sempre as pessoas que sobrevivem a determinado acontecimento-limite desenvolvem esse ou aquele tipo de trauma e quetais. Não esqueçamos que as crianças são resistentes. Essas, em particular, tiveram de se defrontar com a crueza máxima da vida ainda quando jovens, mas sobreviverão. Já são fortes.
O que você acha do fato de alguns pais com filhos naquela escola dizerem que não querem mais os filhos em colégio público?
Um dos efeitos mais perversos que posso intuir do acontecimento em Realengo é o fato de que, ao fim e ao cabo, é a própria escola pública que será penalizada. Como não teremos como julgar e condenar o responsável direto, temo que restará apenas a sensação de que caberia à escola ter prevenido essa tragédia. O resultado será certeiro: mais uma vez a escola pública nacional será objeto de depreciação e de estigmatização. E, se assim o for, uma nova injustiça será cometida.
Há explicação para o que aconteceu?
A meu ver, o melhor analista da questão da violência da/na escola não é um teórico, mas o cineasta Gus Van Sant, responsável pela obra mais impactante já realizada sobre o assunto: Elephant. Trata-se de uma retomada ficcional do massacre de Columbine, a partir do ponto de vista dos alunos envolvidos. Uma obra sem precedentes, indubitavelmente. O título do filme refere-se a uma parábola budista segundo a qual um grupo de cegos tenta descrever um elefante a partir das diferentes partes de seu corpo. Daí que ninguém logra ter uma visão do animal em sua totalidade, restando a cada um uma apreensão parcial, embora se imagine generalizante. Com isso, quero dizer que, a despeito de toda a tagarelice explicativa que virá à tona, as razões do que se passou em Realengo permanecerão incógnitas. Aos que creem no sobrenatural, cabe rezar pelos que se foram. Aos demais, resta-nos apenas um nó na garganta, um nó que não desata.

Cidades em debate: Economia - meio ambiente e etnicidade (Fórum)

Paisagem e experiências urbanas (curso)

Curso interdisciplinar de curta duração (20 horas) na UFF – Gragoatá – bloco C
Organização: Profas. Dras. Ida Alves (UFF), Carmem Negreiros (UERJ) e Masé Lemos (UERJ)
Universidade Federal Fluminense - UFF/Instituto de Letras/Pós-graduação em Estudos de Literatura
Núcleo de Estudos de Literatura Portuguesa e Africana - NEPA UFF/Grupo de Pesquisa CNPq – Estudos de paisagem nas literaturas de língua portuguesa
De 27 de abril a 29 de junho de 2011, somente às quartas-feiras, de 14h a 16h, sala 501C.
Abril
Dia 27 – Prof. Dr. Ricardo Basbaum (Instituto de artes – UERJ) - O diagrama como paisagem
Maio
dia 04 – Prof. Dr. Adalberto Müller (UFF) - O(s) vazio(s) na paisagem urbana de Antonioni e Tsai Ming-Liang.
Dia 11 – a confirmar
dia 18 – Prof. Dr. Pascoal Farinaccio – (UFF) – Espaços claustrofóbicos na obra de Lourenço Mutarelli
dia 25 – Prof. Dr. Denilson Lopes (UFRJ) - As Paisagens Transculturais e as Pequenas Cidades no Cinema Contemporâneo.
Junho
dia 01 – Profa. Dra. Masé Lemos (UERJ) - A paisagem na poesia brasileira contemporânea
dia 08 - Profa. Dra. Carmem Negreiros (UERJ) – Experiência urbana, subjetividade e romance
dia 15 - Poeta Marilia Garcia (Doutora em Letras UFF) – A paisagem que tem lugar na poesia de Emmanuel Hocquard
dia 22 – Profa. Dra. Celia Pedrosa (UFF) - Poesia brasileira e experiência urbana
dia 29 – Profa. Ana Paula Torres Megiani (USP) – Cidade e história (título provisório)

11 de abril de 2011

Cidade Inteligente

Próximo episódio: Revitalização dos espaços urbanos Espaços degradados pelo processo de urbanização são revitalizados em cidades em transformação. Impactos à população. Convidados: Evelyn Werneck (arquiteta e urbanista, professora da Faculdade de Artes Cênicas da UNI-Rio) e Augusto Ivan de Freitas Pinheiro (arquiteto e urbanista).
Exibição: Band Rio: dia 17/04 às 09:00 // Net Canal 14: dia 11/04 às 13:00
Fonte: http://multirio.rio.rj.gov.br/multiriotv/index.php?option=com_multirionatv&view=siteproducao&controller=siteproducao&id=75&Itemid=5

Carta das cidades educadoras


As cidades representadas no I Congresso Internacional das Cidades Educadoras, que teve lugar em Barcelona em Novembro de 1990, reuniram na Carta inicial, os princípios essenciais ao impulso educador da cidade. Elas partiam do princípio que o desenvolvimento dos seus habitantes não podia ser deixado ao acaso. Esta Carta foi revista no III Congresso Internacional (Bolonha, 1994) e no de Gênova (2004), a fim de adaptar as suas abordagens aos novos desafios e necessidades sociais. A presente Carta baseia-se na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), na Declaração Mundial da Educação para Todos (1990), na Convenção nascida da Cimeira Mundial para a Infância (1990) e na Declaração Universal sobre Diversidade Cultural (2001).
          PREÂMBULO
          Hoje mais do que nunca as cidades, grandes ou pequenas, dispõem de inúmeras possibilidades educadoras, mas podem ser igualmente sujeitas a forças e inércias deseducadoras.
          De uma maneira ou de outra, a cidade oferece importantes elementos para uma formação integral: há um sistema complexo e ao mesmo tempo um agente educativo permanente, plural e poliédrico, capaz de contrariar os fatores deseducativos.
          A cidade educadora tem personalidade própria, integrada no país onde se situa é, por consequência, interdependente do território do qual faz parte. É igualmente uma cidade que se relaciona com o seu meio envolvente, outros centros urbanos do seu território e cidades de outros países. O seu objetivo permanente será o de aprender, trocar, partilhar e, por consequência, enriquecer a vida dos seus habitantes.
          A cidade educadora deve exercer e desenvolver esta função paralelamente às suas funções tradicionais (econômica, social, política de prestação de serviços), tendo em vista a formação, promoção e o desenvolvimento de todos os seus habitantes. Deve ocupar-se prioritariamente com as crianças e jovens, mas com a vontade decidida de incorporar pessoas de todas as idades, numa formação ao longo da vida.

NOTA DO cidadeeducativa - RJ 
Iremos publicar os trechos da Carta sequencialmente e na íntegra, mas por partes para irmos assimilando e discutindo algumas de suas questões. A primeira delas seria quanto ao exercício da função educadora em paralelo às demais. Cabe aí a pergunta: esta colocação pressupõe uma divisão? Atenção, a educação é um exercício da economia, da política etc. Não dá para pensar em prestar serviço sem que se pense que implicita e concomitantemente se exerce um determinado tipo de educação. Dar bom dia, devolver o troco certo, não jogar lixo na rua, evitar freadas bruscas, parar para ver uma borboleta amarela (como Rubem Braga), respeitar (e apreciar) os tipos diferentes de gente que cruzam à nossa frente na avenida, não buzinar, não iluminar os monumentos como se eles fossem anúncios de neon, pensar que visitar um lugar é perceber que nele habitam pessoas, que não devem se corromper para agradar a todo custo, etc. etc. são atitudes que implicam em uma visão integrada da cidade como lugar de educação.

10 de abril de 2011

Bárbara dos Prazeres - uma lenda urbana

          Muita gente já ouviu falar dela. Dizem que até hoje ela assombra o Arco do Telles, local onde fazia ponto como prostituta. Tudo começou em 1788, quando Bárbara, então com 18 anos, chegou de Portugal com seu marido. Foi chegar no Rio e se apaixonar por um mulato. Não teve dúvida, matou o marido e até que viveu uma vidinha boa com o amante até que notou que o homem não só vivia às suas custas como também a traia. Mais uma vez, resolveu seu problema na base da faca.
          Mas o dinheiro de Bárbara era pouco e, sem outros recursos a não ser o da sua beleza, virou uma prostituta. Muito afamada, tinha vários clientes até que notou que o tempo estava fazendo das suas e tirando-lhe o seu sustento. Contam então que, para manter-se sempre bela, Bárbara procurou a magia negra e passou a beber sangue de crianças vivas, acreditando que assim obteria a eterna juventude.
          Há quem jure que a via à espreita na Roda dos Expostos da Santa Casa, lugar onde depositavam bebês rejeitados.

Segundo a Wikipédia, "a roda dos expostos consistia num mecanismo utilizado para abandonar os recém-nascidos que ficavam ao cuidado de instituições de caridade. O mecanismo, em forma de tambor, giratório, embutido numa parede, era construído de tal forma que aquele que expunha a criança, não era visto por aquele que a recebia." Desenho de Thomas Ewbank (1845)
          Passados todos estes anos, a lenda de Bárbara dos Prazeres povoa o Arco do Telles...
A visita ao Arco do Telles é recheada de histórias curiosas.
          Milton Teixeira, um importante guia turístico da cidade do Rio de Janeiro, montou um roteiro por onde passa pelos locais onde habitam os fantasmas do Rio. Bárbara dos Prazeres é um deles.
           A personagem também excitou a imaginação de Ruy Castro que a colocou em seu romance "Era no tempos do rei" como amante do rei D.João VI. O livro foi adaptado e se tornou um musical.
A trama do musical gira em torno de um golpe da rainha Carlota Joaquina para tirar Dom João do trono, contando para isso com a ajuda de um amante seu, um diplomata inglês. Realidade e ficção se misturam. A prostituta Bárbara dos Prazeres foi interpretada por Soraya Ravenle.

Sistema subterraneo de coleta de lixo em Barcelona

8 de abril de 2011

Parece até que já conhecia

Alex Andrade
          Fechava os olhos pra dormir. Em poucos segundos, imaginava uma cidade pequena, pacata e florida. Eu imaginava seu nome como tivesse nascido por lá. Viajava: paisagens, ruas, becos e até as pedras beijadas a todo instante pelas apaixonadas ondas. E por falar em ondas, meu sonho preferido era navegar por uma baía, atravessar uma ponte, mas por baixo! A ponte era muito alta e imponente. De um lado, eu avistava... Opa, que barulho é esse? Olha, tem até avião. Ele precisa contornar duas belas montanhas. Não sou músico, mas dá até pra inventar uma canção: cidade, seu mar praia sem fim, essa cidade foi feita pra mim...
          Meu relógio, deixe-me apresentar, o galo Bombeiro, já disparava a soar a sirene. Passam das cinco da manhã. Hora de recolher o gado. Engraçado, quando acordo tenho a sensação que conheço aquela cidade. Parece tão próxima, atingível, acessível. É tanta vontade de sonhar e voltar a visitar, que me pego contando as horas pra voltar a adormecer e... E, acredite, tenho a maior dificuldade de lembrar dos sonhos. Pra ser mais preciso, só lembro quando sonho com esta misteriosa cidade. Na noite passada, surgiu em meu sonho uma cúpula redonda com um olho gigante. De lá, consegui avistar uma grande Pedra com uma rampa, incrível! Agora eu sei como se sentem os pássaros.

Asa Delta
          Nesta mesma noite, fiz uma visita a um Museu, aliás, um senhor Museu, arte, cinema, acho que em seu acervo tinham mais de cem mil itens, entre publicações, documentos originais, fotografias, vídeos, cartazes e plantas. É muita imaginação! Respirei uma Floresta que, de tão grande, acredito que poderia ser a maior área de mata em meio urbano do mundo. Mergulhei em duas praias, uma muito bacana, já a outra, aqui pra gente, avistei tão belas mulheres, quase me afoguei.

Praia 360 graus
Não, não acabou não! Bateu fome fui a uma confeitaria tinha até cristal nas luminárias, contornei uma montanha à beira-mar, cheguei a uma Praça já passava das XV, começou a soar um aviso de um barco que partia em busca de uma Ilha. Pra que tá? Muito agitado, parei para rezar numa igreja no meio de enormes e largas avenidas. O mais incrível, vem agora. Um OVNI! Acredite, esta é uma cidade de extraterrestres. Ela tem uma nave gigantesca, redonda como nos filmes e, dentro, cabem várias, umas cem mil pessoas abduzidas.

Maracanã
          Na noite seguinte, caminhei por um Jardim, imenso, a variedade de espécies e a majestade da Botânica deixou-me perdido. Caminhei por horas, até que cheguei a outro Jardim, porém, este era o quintal de um palácio, belíssimo, imponente, pensei ser de um imperador... Ih, lá vem o Bombeiro e sua sirene! Fim de sonho, início da realidade. O carro de boi já-já chega para buscar o leite e o queijo. Mas me diz uma coisa, você acha que devo escrever, porque, sabe como é, a idade chega a memória vai embora, a gente esquece tudo. Ah, outro dia sonhei que...
Ipanema à noite - JMGLA

3 de abril de 2011

Relato da Cinelândia

Mônica Vallim
          Apesar de todos os problemas causados pelo descaso de nossos políticos, o Rio de Janeiro continua sendo uma das cidades mais lindas do Brasil onde a natureza ainda sobressai em contraste com a violência nas favelas, com a arquitetura luxuosa de certos bairros e as construções muito antigas do centro.
          No centro da cidade do Rio de Janeiro, há trechos bucólicos com ruas estreitas, as chamadas travessas. Algumas delas possuem calçamento de paralelepípedo do tempo do Brasil Império e construções muito antigas tombadas pelo Patrimônio Histórico Nacional, mas em determinados pontos esse Rio antigo contrasta-se com um moderno de arquitetura arrojada. É fácil perceber isso quando caminhamos da Av. Presidente Vargas, onde se encontra a Central do Brasil, à Av. Rio Branco, indo em direção da Cinelândia. Mas tenha cuidado com a bolsa e o celular nesse trajeto, pois furto no centro do Rio é coisa corriqueira e ninguém faz absolutamente nada.
          Na Cinelândia, encontra-se a Praça Marechal Floriano Peixoto, onde fica a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e é palco de calorosas manifestações populares. A praça, toda calçada de pedras portuguesas, tem orelhões, bancas de jornal e bancos de madeira pintados de verde com pés de ferro em preto, e tem também muitas árvores frondosas com ninhos de pardais que amenizam o calor nos dias de verão. O que incomoda são os pombos e os pedintes. Tem uma estátua imponente de Carlos Gomes, um antigo compositor brasileiro, bem em frente ao Teatro Municipal que agora, depois de uma grande restauração, ganhou grades externas de proteção para impedir atos de vandalismo, e está mais belo que nunca. Até o Obama esteve lá no mês passado. É um local rico em histórias, com vários centros culturais próximos, e farto em conduções. Tem até estação de metrô que leva o povo rapidinho para a zona norte ou para a zona sul, embora atualmente estejam tão superlotados quanto os trens.
          Existe ali um restaurante muito conhecido que vive sempre lotado. Um prédio antigo pintado com um amarelo sem graça e com um toldo amarelo canário berrante, mas que talvez por isso mesmo se chame Amarelinho. Os petiscos de lá são bem gostosos e funciona até altas horas da madrugada.
          Quase em frente ao Amarelinho, cruzando a Praça Floriano e atravessando a Av. Rio Branco, tem a Biblioteca Nacional, que em 2010 completou 200 anos, e é considerada uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, segundo a UNESCO. É um prédio grandioso construído em 1910, de uns três ou quatro andares e tem colunas enormes na entrada principal, que lembram as construções da Grécia Antiga que vemos nos filmes épicos. Tem uma grande escadaria principal com duas escadarias laterais com corrimãos largos, daquelas que as crianças logo pensam que podem brincar de escorregar. Parte do seu acervo veio da primeira biblioteca do Brasil que foi fundada por D. João com o nome de Real Biblioteca, no tempo da vinda da família real, quando Napoleão invadiu Portugal.
Fontes: