Produzido no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro - ISERJ. Nosso e-mail: cidadeeducativa@googlegroups.com

27 de agosto de 2012

Da cidade de Mesquita ao bairro da Tijuca: a geografia vivida

-->
--> Igor Silva Santos
Praça Elizabeth Paixão, centro de Mesquita. Foto: Overmundo / prefeitura de Mesquita
          O trajeto entre a minha casa e a faculdade onde estudo 
--> o Intituto Superior de Educação, na Tijuca -->   se inicia às 4h20min da manhã. Mesmo morando em frente à estação de trem de Juscelino, em Mesquita, este é um dos piores horários para se pegar o trem. Quase sempre lotados, correm com as portas abertas... Por isso, prefiro pegar dois ônibus, o que aumenta o tempo de viagem e os custos no final do mês.
          O bairro em que moro é estratégico para as cidades de Nova Iguaçu e Mesquita. Algumas das maiores empresas de ônibus, hospitais, indústrias e um grande centro de recepção e distribuição dos Correios estão localizados nele. Isso faz com que a oferta de transporte para toda a região metropolitana e até mesmo outras regiões seja bem grande. Contudo, ainda observamos calçadas esburacadas, iluminação pública insuficiente, coleta de lixo irregular. A cidade de Mesquita não possui um hospital público. Próximo à minha casa, existe um posto de saúde, uma creche, uma escola de educação infantil, duas de ensino fundamental e uma de ensino médio profissionalizante. Não há opções de lazer, nada de cinema ou de teatro, embora exista um parque ecológico muito bonito, bem sinalizado e com diversas cachoeiras.
Falta de calçamento em rua de Mesuita. Foto: Ana Claudia de Carvalho / O Globo
          As 5h, pego o primeiro ônibus
-->   Nova Iguaçu-Mariópolis  --> em direção ao bairro de Anchieta, o último bairro do subúrbio do Rio de Janeiro antes de chegar à Baixada Fluminense. Neste horário, o trajeto dura cerca de 20 minutos, passando pelo centro da cidade de Mesquita e por Nilópolis. Viajam comigo muitos trabalhadores e jovens que servem ao Exército. É possível então observar a cidade se levantando: padarias abrindo, bancas de jornal arrumando as notícias do dia, portões de garagem sendo abertos por seus donos... A cidade acorda aos poucos, mas os seus habitantes já se levantaram há bastante tempo.
Foto: prefeitura de Nilópolis
          Em Anchieta, pego a linha 624
--> Mariópolis-Praça da Bandeira. Não há um só passageiro desta linha que não tenha o mesmo pensamento: "este ônibus dá muita volta!" Eu concordo... Num dia bom, com pouco trânsito, levo cerca de 1h45min até o Iserj. É tempo suficiente pra ler os textos, revisar algum trabalho, dormir e acordar... 
Bairro de Anchieta. Foto: História do Rio
          Este ônibus corta bairros tradicionais, como Deodoro (e toda Vila Militar), Marechal Hermes (e as filas imensas na porta do Hospital Estadual Carlos Chagas) até chegar à Base Aérea do Campo dos Afonsos e à avenida Intendente Magalhães, com suas inúmeras lojas de carros. Devido às obras da Transcarioca, esse é o pior momento do percurso. O trânsito simplesmente não anda.
         Ao chegar ao Campinho, destaca-se a imponente obra da prefeitura visando à melhoria no trânsito a urbanização do bairro de Madureira. Algumas construções centenárias foram demolidas em nome do progresso... 
Remoções para a obra da Transcarioca, na favela do Campinho, em Madureira. Foto: Eduardo Sá/Fazendo Media.
           Já na avenida Suburbana, destaca-se a convivência entre imóveis residenciais e comerciais, novos e velhos. A grandiosa igreja de São Benedito, em Pilares, e o enorme Norte Shopping são construções marcantes. Há também o Capão do Bispo, a arrojada catedral Universal do Reino de Deus e o antigo prédio da Fábrica de Tecidos, hoje Shopping Nova América.
          Chegar ao Jacarezinho é a parte mais angustiante. Ali, observa-se muitos usuários de drogas, moradores de rua, pessoas se prostituindo... Tudo em meio ao lixo, aos carros, ao esgoto. A sensação é que essas pessoas se confundem com o lixo que não queremos mais, que descartamos. Estão ali, a qualquer hora do dia. Moram em frente a uma Clinica da Família, uma creche e uma Escola Municipal.
          Em Benfica, o pólo de iluminação e seus belos lustres ajudam a iluminar um pouco o caminho. Chegando em São Cristovão observamos o Pavilhão de Tradições Nordestinas, o prédio do Colégio Pedro II e o Teatro Mario Lago. Tudo isso envolto nas enormes colunas de ferro e concreto do viaduto conhecido como Elevado da Perimetral. Neste ponto parece que a cidade foi engolida pelo asfalto aéreo. O lugar fica escuro, úmido e sem vida.
        Entramos na Avenida Francisco Bicalho e o ônibus já está praticamente vazio. Destaca-se a Leopoldina, construção belíssima, mesmo inacabada. Entramos na rua do ponto final. Desço e sigo em direção ao Iserj pela praça da Bandeira, que lá se encontra, a tremular em um grande mastro, toda rasgada e deteriorada.
Obras na Praça da Bandeira terminam em 2014. Foto: Bruna Prado/ Metro RJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário